27 de maio de 2014 -09h21
Paula, Sara e Marco escolheram o litoral alentejano para realizarem o ano comum do internato de Medicina, manifestando vontade de se fixar na região, e, para os serviços, são a “única esperança” para captar novos médicos.
Paula Gomes partiu de Lisboa para a cidade de Brno, na República Checa, onde tirou o curso de Medicina, tendo-se licenciado no ano passado.
Na altura de escolher o local para realizar o ano comum do internato médico, a jovem, de 25 anos, preferiu “a periferia” e o facto de ter uma segunda habitação na costa alentejana foi "crucial", por não ter de “gastar em residência”.
Marco Alves, o companheiro, de 28 anos, que também se licenciou na Faculdade de Medicina de Brno, onde se conheceram, acompanhou-a na escolha.
Juntos decidiram não optar por um hospital central, pois ansiavam por uma maior “aproximação” aos tutores.
Nesse aspeto, as suas expectativas não estão a ser goradas, embora Paula Gomes confesse que, a nível prático, a experiência é limitada, porque “há menos procura de doentes”, dado ser “uma zona pouco habitada”.
No final do ano, ambos terão de escolher a especialidade e o local onde pretendem fazer o respetivo internato.
O casal manifestou à agência Lusa o desejo de permanecer na zona, pela “qualidade de vida” que permite, mas a decisão não depende diretamente de ambos.
Tanto Paula como Marco deverão enveredar pela Medicina Interna, uma das especialidades do Hospital do Litoral Alentejano (HLA) com o quadro de médicos “mais depauperado”, de acordo com o diretor da Unidade de Cuidados Intensivos, Pedro Moreira.
Segundo o clínico, que é também responsável pelo internato médico hospitalar, faltam 10 especialistas de Medicina Interna para “completar o quadro” e a “única esperança” são os clínicos que se vão formando na Unidade local de Saúde do Litoral Alentejano (ULSLA).
A administração da ULSLA indicou à Lusa que, atualmente, “faltam 87 médicos de diversas especialidades clínicas”, sendo os “serviços mais afetados” as urgências e a Medicina Geral e Familiar (MGF).
Em média, nos concelhos de Alcácer do Sal, Grândola, Odemira, Santiago do Cacém e Sines, 25% dos cerca de 100 mil habitantes não têm médico assistente nos centros de saúde, proporção que aumentaria para perto de metade se não fosse “o apoio” de 13 clínicos cubanos.

“A tendência é para a situação se agravar, dado que temos médicos de Medicina Geral e Familiar a reformarem-se e os novos concursos têm ficado com as vagas por ocupar”, informou a administração da ULSLA.
Sara Borges da Costa representa, por isso, outra das “esperanças” da ULSLA, uma vez que, concluído o ano comum, pretende seguir a especialidade de MGF e, se possível, fixar-se na região.
A jovem, de 26 anos, é natural de Vila Nova de Santo André, no concelho de Santiago do Cacém, onde se situa o HLA e a sede da ULSLA, tendo sido esse um dos motivos principais da sua escolha.
“Tenho aqui uma qualidade de vida brutal e acho que ficar é uma mais-valia, porque se trata de uma população carenciada”, referiu à Lusa.
A ULSLA pode dar formação apenas nas especialidades de MGF, Saúde Pública, Medicina Interna, Cirurgia Geral e Ortopedia, o que também se deve à falta de clínicos especialistas seniores, explicou Mário Jorge, responsável pelo internato médico de cuidados de saúde primários e de Saúde Pública.
No entanto, os médicos que concluem aqui a sua formação têm tendência para ficar, assegurou.
“Os internos que terminam a especialidade, se quiserem, têm um contrato individual de trabalho feito aqui no hospital”, acrescentou Pedro Moreira.
Uma forma de ir superando, a “conta-gotas”, o aparente desinteresse dos médicos já integrados no Serviço Nacional de Saúde pela região, o que os responsáveis explicam com a “falta de incentivos financeiros” por parte do Ministério da Saúde.
Por Lusa