Para dar força a esta missão, 31 voluntários experientes criaram a associação VOXLisboa com o objetivo de desenvolver ações sustentáveis de promoção da saúde física, mental e social das pessoas em situação de vulnerabilidade, disse à agência Lusa o presidente e um dos fundadores da associação, Hugo Martins.

A associação tem já dois projetos no terreno, “Rua com saúde” e “Rua com saída”, e vai promover no sábado, em Lisboa, as “Primeiras Jornadas Saúde Solidária” para partilha de conhecimentos e experiências na prestação de cuidados de saúde a pessoas em situação vulnerável e reforçar a importância do acompanhamento social e emocional como complemento terapêutico.

“É sobretudo com saúde que nós lidamos porque os 31 voluntários que se juntaram inicialmente, hoje somos muito mais, são médicos, enfermeiros, psicólogos, técnicos de cardiopneumologia” e todos têm em comum “uma grande vontade de ajudar a população sem-abrigo, mas também idosos que estão isolados e sós na cidade de Lisboa” e pessoas que apesar de terem "um quarto para dormir precisam de ajuda alimentar ou de saúde", adiantou o médico Hugo Martins.

Cuidados de saúde com apoio emocional

Quinzenalmente aos sábados, as equipas do projeto “Rua com Saúde” saem para cinco zonas de Lisboa (Oriente, Arroios, Rossio, Santa Apolónia e Cais do Sodré) juntamente com os voluntários do “Rua com saída”, pessoas de outras áreas profissionais que fazem da “escuta ativa, afetuosa e humana as suas ferramentas terapêuticas”.

Nestas saídas, os voluntários levam apoio emocional, humano e social, procurando “humanizar os cuidados de saúde” e diminuir a solidão destas pessoas.

“Às vezes é preciso haver um jogo de cintura para conseguirmos dar uma ajuda efetiva a estas pessoas, porque infelizmente muitas delas vão aos serviços”, mas depois não se consegue dar uma resposta efetiva, lamentou o médico, dando como exemplo a população sem-abrigo com problemas psiquiátricos.

O médico defendeu também a importância de conhecer as particularidades destas pessoas para um melhor acompanhamento.

“Sou médico no Hospital de São José, onde temos uma multiculturalidade que vai aos serviços e recorre às urgências. Muitas pessoas professam a religião muçulmana ou hindu e têm as suas particularidades e é preciso conhecê-las para poder melhorar não só a prestação de cuidados como para eles aderirem” à terapêutica, elucidou.

Relativamente às jornadas que a Voxlisboa vai realizar na Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, com o apoio de vários parceiros, entre os quais a Comunidade Vida e Paz, Hugo Martins disse que têm também como objetivo a formação.

“O nosso curso [de Medicina] é muito rico e muito bom em termos teóricos, temos muitos livros para conhecer as doenças, mas temos muito pouco para conhecer as pessoas doentes”, que além da necessidade física têm outros problemas, sublinhou.

Às vezes, através de uma conversa terapêutica com a pessoa, consegue perceber-se que “a dor no pé que refere, não é uma dor no pé, mas uma somatização de um problema familiar que o levou à rua, uma angústia de há muitos anos”.