27 de maio de 2014 - 09h21
Responsáveis dos serviços de saúde do litoral alentejano alertam para o problema, ”tipo bomba-relógio”, de os médicos com capacidade para formar os jovens que saem das faculdades de Medicina estarem a caminho da aposentação.
“Estamos numa fase em que os médicos que se formaram nos anos 70, depois do 25 de Abril, uma leva muito grande, estão agora a chegar à fase de aposentação”, disse hoje à agência Lusa o diretor da Unidade de Cuidados Intensivos do hospital integrado na Unidade local de Saúde do Litoral Alentejano (ULSLA), Pedro Moreira.
Este facto, aliado ao congelamento da progressão nas carreiras dos últimos anos, pode levar a que os serviços de saúde fiquem sem médicos especialistas para formar os novos licenciados em Medicina, frisou o clínico, que é também responsável pelo internato médico hospitalar na ULSLA.
O problema, “tipo bomba-relógio”, referiu Pedro Moreira, vai acentuar-se face ao aumento do número de recém-licenciados em Medicina, provocado pelo recente aumento de vagas nas universidades, determinado para responder à generalizada falta de médicos.
A medida poderia ser positiva para a ULSLA, pois, com o “excedente” de recém-licenciados, abriu-se as portas para que a sua formação seja feita em “hospitais periféricos”, como é o caso do Hospital do Litoral Alentejano, sustentou o responsável.
Contudo, a capacidade formativa daquela unidade é reduzida, devido à falta de médicos especialistas, e a limitação tende a agravar-se.
Em média, passam, pela ULSLA, 10 internos por ano, o que “é pouco em relação a outros hospitais”, mas “adequado” à capacidade dos serviços, explicou à Lusa o responsável pelo internato médico de cuidados de saúde primários e de Saúde Pública, Mário Jorge.
Segundo o clínico, bastaria que a unidade tivesse dois pediatras, em vez de apenas um, para poder receber mais internos.
Atualmente, a ULSLA, que abrange os concelhos de Alcácer do Sal, Grândola, Odemira, Santiago do Cacém e Sines, pode dar formação apenas nas especialidades de Medicina Geral e Familiar, Saúde Pública, Medicina Interna, Cirurgia Geral e Ortopedia.

Para estes serviços, é importante formarem os jovens licenciados, pois representam a “única esperança” para irem preenchendo as lacunas de médicos especialistas no quadro de pessoal, afirmou Pedro Moreira.
“Os internos que terminam a especialidade, se quiserem, têm um contrato individual de trabalho feito aqui no hospital”, indicou.
Já nas especialidades em que a instituição não tem “idoneidade” para formar, a resolução do problema é mais difícil, explicou o responsável, pela “retração” na contratação de novos funcionários públicos e porque os concursos para deslocação de médicos que já estão integrados no Serviço Nacional de Saúde “têm ficado desertos por falta de candidatos”.
“Muitas vezes, esses profissionais, mesmo que queiram vir para cá, quando fazem as continhas, verificam que não compensa, porque iriam, de facto, perder dinheiro. Não há incentivos claros para estabilizar médicos nas zonas onde são realmente carenciados”, criticou Mário Jorge.
Por Lusa