Um despacho hoje publicado em Diário da República cria um grupo técnico independente para avaliar os sistemas de gestão das listas de espera para consultas e cirurgias, após um relatório do Tribunal de Contas que pôs em causa a fiabilidade dos dados oficiais.

Para o bastonário da Ordem dos Médicos, a criação do grupo técnico permite “responder pelo menos parcialmente” às questões e dúvidas levantadas pelo Tribunal de Contas e pode levar ao início de correção de falhas, caso se venham a verificar.

“Este despacho é publicado também com base naquilo que foi a posição que teve a Ordem dos Médicos a propósito do relatório do Tribunal de Contas”, afirmou Miguel Guimarães à agência Lusa, ressalvando contudo que não se trata propriamente de uma auditoria externa ou independente como a Ordem tinha requerido.

Mas Miguel Guimarães sublinhou que o importante é que “seja devidamente esclarecido tudo o que tenha a ver com o acesso dos doentes aos cuidados de saúde”. “Para não ficarem dúvidas se os tempos de espera são mais ou menos prolongados e se existem situações menos claras relativamente à gestão das listas de espera para consulta ou cirurgia”, acrescentou.

Na quarta-feira haverá uma reunião com o ministro da Saúde para acertar o que será avaliado por este grupo e quem o integrará, segundo Miguel Guimarães.

O despacho hoje publicado define que o grupo técnico independente é presidido pelo bastonário da Ordem dos Médicos, mas Miguel Guimarães adianta que a Ordem ainda irá decidir internamente quem é a pessoa mais adequada para integrar o grupo.

“É possível que, pela parte da Ordem dos Médicos, seja escolhida internamente uma pessoa para me substituir. Se for um grupo mesmo técnico provavelmente não deverei ser eu a lá estar. Internamente vamos decidir a pessoa mais apropriada, dependendo do que for o objetivo fundamental”, afirmou.

Além da Ordem, integrarão este grupo representantes dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, da Direção-Geral da Saúde, da Inspeção-geral das Atividades em Saúde, da Entidade Reguladora da Saúde, da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, de associações de doentes e da comunidade académica.

Apesar de considerar o despacho uma “resposta positiva” às dúvidas que foram levantadas, o bastonário dos Médicos ressalva que não se trata da auditoria independente que a Ordem tinha proposto, “uma auditoria externa, feita por uma entidade completamente exterior ao serviço de saúde e até à própria Ordem”.

Seria, segundo Miguel Guimarães, uma avaliação feita por uma empresa especializada em auditorias, sendo que a Ordem poderia participar dado “o ‘elevado know-how’ que tem naquilo que é a gestão clínica”.

O grupo técnico agora criado terá cerca de dois meses, a partir de hoje, para apresentar um relatório final, um prazo que o bastonário classifica como curto.

O relatório do Tribunal de Contas divulgado na semana passada vem contrariar números da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), que apontavam para menos tempo de espera na primeira consulta de especialidade dos hospitais públicos.

Mais tempo de espera para uma consulta hospitalar e mais utentes a aguardarem por uma cirurgia entre 2014 e 2016 foram alguns dos aspetos identificados pelo tribunal.

O relatório vem pôr em causa a fiabilidade dos dados oficiais, identifica incumprimentos nos tempos máximos de resposta garantidos e refere a eliminação de utentes de listas de espera, questões que a Ordem dos Médico considera essenciais serem esclarecidas.