11 de fevereiro de 2014- 09h30

Um tratamento não invasivo para a otite serosa com recurso a um dispositivo acoplado a um boneco de peluche está a permitir que dezenas de crianças, no Algarve, sejam retiradas das listas de espera para cirurgia. Segundo o médico, o equipamento reduz 80% das cirurgias.

Em declarações à agência Lusa, o médico Armin Bidarian Moniri, que criou o dispositivo, disse que desde que começaram os primeiros estudos, no serviço de Otorrinolaringologia do hospital de Portimão, entre 2010 e 2011, já houve cerca de uma centena de crianças que evitaram a cirurgia. Foi neste hospital que o dispositivo foi inteiramente desenvolvido.

"A maior parte destas crianças ficam a ouvir melhor apenas passadas duas a quatro semanas de tratamento", afirmou, explicando que o tratamento é baseado em manobras também usadas por pilotos e mergulhadores, como exalar forçadamente com a boca fechada e o nariz tapado.

O dispositivo consiste numa máscara com um tubo acoplados a um boneco de peluche, que tem um balão que se enche de ar quando se tenta expirar e ainda uma bomba, que pode ser acionada por um adulto se a criança ainda for demasiado pequena para conseguir soprar.

Segundo Armin Moniri, a diferença entre a otite aguda e a otite serosa é que esta é assintomática, habitualmente não causa febre e caracteriza-se pela presença de líquido no ouvido, o que pode causar dificuldades de audição, muitas vezes difíceis de detetar pelos pais.

"A membrana timpânica tem que ter mobilidade normal para termos audição normal e o líquido lá dentro impede este movimento normal e a criança fica com falta de audição", observou.

Foi o que aconteceu à Leonor, de quatro anos, que, segundo contou à Lusa a mãe, Patrícia Ramos, começou a ter otites desde muito bebé e mais tarde começou a pedir frequentemente para falarem mais alto com ela e a ter alguma dificuldade em ouvir.

"Nós estávamos à espera que ela fosse mais velha para ser
submetida a uma cirurgia", explicou a mãe da menina, que tinha muitas
reservas em que a Leonor fosse operada e ficou radiante pelo facto de os
tratamentos terem resultado.

No início, o tratamento era feito
diariamente, mas era fácil e resultou bem porque "é quase um brinquedo
para eles, torna-se um jogo", concluiu.

De acordo com médico do Serviço de Otorrinolaringologia no
Centro Hospitalar do Algarve, apesar de a cirurgia nestes casos ser
relativamente simples, implica sempre anestesia geral e ainda o risco de
perfuração permanente da membrana timpânica, o que pode obrigar a nova
cirurgia.

Dispositivo patenteado e pronto a ser comercializado

Armin Moniri, sueco de origem persa, formado em
Medicina pela Universidade de Bergen, na Noruega, é o criador do
dispositivo para o tratamento da otite seromucosa em crianças, já
patenteado por si e que até ao verão deverá começar a ser
comercializado.

Com 39 anos, o médico e professor convidado do
curso de Medicina da Universidade do Algarve, foi galardoado em janeiro
pela Rainha da Suécia pela sua investigação, que é também um dos temas
do doutoramento iniciado na Suécia: "Apneia do Sono em adultos e otite
seromucosa em crianças”.

SAPO Saúde com Lusa