Está em curso uma campanha anti-colesterol e anti-estatinas que atingiu o apogeu com a transmissão pela RTP 1 do documentário "Colesterol: A grande farsa". Quem o diz é o médico Manuel Oliveira Carrageta, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia.

"Esta estação pública, na nossa opinião, prestou um mau serviço ao transmitir este documentário sem quaisquer esclarecimentos adicionais contraditórios, apostando exclusivamente nos argumentos que impactam nas audiências", frisa o médico.

Na reportagem emitida pela televisão pública, a indústria farmacêutica é acusada de fazer milhões de euros à custa da venda de medicamentos que alegadamente são pouco eficazes no tratamento do colesterol. Para Manuel Carrageta, "este tipo de apreciações, em contraponto com o estado atual da arte e da ciência no que se refere à prevenção e tratamento dos acidentes cardiovasculares, são vulgares e insensatas. São argumentos sensacionalistas, com origem em personalidades médicas com pouco reconhecimento científico".

Consequências mortais

"Salientamos que estas campanhas podem ter consequências mortais para os doentes de risco, ao pôr em causa uma terapêutica com efeitos benéficos demonstrados", acrescenta.

Devido à campanha anti-colesterol e anti-estatinas que cresce nos média e na Internet, Manuel Carrageta e Ovídio Costa, médico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, confirmam que passam cada vez mais tempo nas consultas a tentar manter os doentes a fazer ou a iniciar a terapêutica com estatinas, uma vez que o receio causado pelo alarmismo desta campanha tem levado alguns doentes a abandoná-la.

Para os dois médicos, esta campanha está a conduzir à suspensão abrupta da medicação com efeitos particularmente nocivos para os que sofrem de doença coronária não estabilizada. "As estatinas foram o maior avanço terapêutico na doença coronária das últimas décadas, juntamente com outros meios, tais como o bypass coronário, a angioplastia coronária e a terapêutica trombolítica na fase aguda do infarto do miocárdio", diz Manuel Carrageta.

"Atendendo ao facto de estas doenças serem a principal causa de morte na maioria dos países, é fácil percebermos a enorme utilidade destes recurso", afirma.

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"Reconhecemos também que as estatinas, como todos os outros medicamentos, podem ter efeitos secundários, mas os benefícios são tão significativos que devemos fazer todos os esforços para que estes medicamentos sejam usados nos doentes apropriados", frisa.

"Hoje em dia, quem põe em causa o uso das estatinas como fármaco de primeira linha no combate à principal causa de morte da nossa população está a negar a utilização de uma classe de fármacos que reduz significativamente o risco de morte cardiovascular", conclui Manuel Carrageta.