A caravana humanitária parte do cais fluvial de Belém, pelas 10h30, e o trajeto será todo feito de carro, para que seja possível transportar todos os medicamentos angariados em duas semanas e meia de recolha junto de particulares, que, “caixinha a caixinha”, conseguiram suprir as necessidades identificadas pelas equipas médicas que trabalham nos cinco campos de refugiados em Tinduf, no sul da Argélia.

À recolha junto de particulares juntam-se donativos de antibióticos de uma farmacêutica e de uma associação.

A caravana, que, para contenção de custos, leva apenas Isabel Lourenço e um condutor saharaui, parte de Lisboa e segue até Almeria, em Espanha, onde apanha o ferryboat para fazer a travessia até à cidade argelina de Orã, seguindo depois o percurso até aos cinco campos de refugiados que vão receber a ajuda portuguesa.

“Tivemos o auxílio da embaixada da Argélia, que nos tem ajudado com a logística, porque para entrar medicamentos os trâmites aduaneiros são complicados. É possível a travessia e atravessar a Argélia devido ao apoio da embaixada, que desde o primeiro minuto foram impecáveis, porque de facto há uma grande burocracia. Normalmente este trajeto não é feito por estrangeiros, mas vão-nos dar uma escolta, vamos ter o apoio por parte das autoridades argelinas e do Crescente Vermelho argelino”, explicou à Lusa Isabel Lourenço.

300 mil refugiados

Este apoio, disse, facilitará a entrega dos medicamentos, muito aguardados nos campos de refugiados, que albergam cerca de 300 mil pessoas, 60% a 70% das quais são crianças, e que em outubro foram destruídos por fortes chuvadas.

“Eles estão ansiosos que eles cheguem, porque com o início do frio, e uma vez que as habitações de adobe foram destruídas, as pessoas estão parte ao relento, parte em tendas comunitárias que levam entre 100 a 200 pessoas”, disse Isabel Lourenço.

Os campos de refugiados já receberam recentemente outros bens necessários, a partir de Espanha, como roupa, e em Portugal a preocupação foi dar resposta à lista de medicamentos pedida pelas equipas médicas.

“Vamos conseguir fazer aquilo que nos propomos. Estamos muito contentes, nunca pensámos que iríamos ter tanta coisa e estamos muito felizes”, disse Isabel Lourenço.

A ativista declarou ainda que “era necessário que se falasse mais neste caso”, de milhares de pessoas refugiadas há décadas, “um povo esquecido que continua à espera que se implemente resoluções das Nações Unidas” e de um referendo “que nunca mais se realize e que faz com que esta situação se eternize”.

“É um povo absolutamente pacífico, que está à espera pacificamente há 40 anos que resolvam a situação”, disse.

O povo saharaui luta pela autodeterminação e independência desde 1975, altura da ocupação pelo Reino de Marrocos, na sequência da retirada de Espanha do território.