O alerta da APCMS surge nas vésperas de se assinalar o Dia Mundial do Sono, que se assinala na sexta-feira e que tem este ano como tema “Durma profundamente, nutra a vida”. “Este ano a Associação Mundial de Medicina do Sono decidiu fazer um alerta numa área que tem sido pouco debatida, mas que tem um significado importante, a função sexual”, disse à agência Lusa Miguel Meira e Cruz.

O especialista em medicina do sono explicou que “o sono adequado”, além de beneficiar o bem-estar e a prevenção de doenças, regula algumas funções do organismo, nomeadamente a testosterona.

No entanto, segundo dados da Associação Portuguesa do Sono, metade da população portuguesa não está satisfeita com os seus hábitos de sono. Desta metade, 25% dorme menos de 6 horas por noite, prejudicando as suas rotinas e normais desempenhos profissionais e sociais. As mais afetadas são as mulheres, com especial incidência nas faixas etárias entre os 25 e os 44 anos.

A privação parcial do sono fazem diminuir “significativamente os níveis de testosterona”, uma “hormona importantíssima” que regula não só a função sexual, como a função metabólica a nível da manutenção de osso, de músculo e de gordura, adiantou o também investigador do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa.

Riscos para a saúde

Segundo o especialista, a privação de sono potencia também “um risco acrescido cardiovascular e metabólico, nomeadamente no que diz respeito à diabetes”. “Alguns estudos atribuem protagonismo à disfunção erétil como fator preditivo de morbilidade e mortalidade cardiovascular, encontrando-se também uma associação forte entre aquela e a diabetes, o que, como sabemos, sucede com a privação de sono”, sublinhou.

A médio e a longo prazo, a redução desta hormona pode também leva a alterações comportamentais, como a agressividade e a impulsividade.

Miguel Meira Cruz coordenou cientificamente um estudo realizado em Moscovo com estudantes universitários saudáveis e com sono regular. O estudo teve como objetivo observar o que sucederia quando lhes fosse retirado “uma parte importante do sono de ondas lentas”, um período do sono com propósitos de recuperação metabólica e hormonal.

“Este estádio de sono é o mais afetado pelos hábitos e padrões de sono inadequados, bem como por alterações primárias ou mesmo pelas doenças do sono mais frequentes, como por exemplo a apneia do sono”, explicou.

Os resultados do estudo verificaram que, após uma noite com a redução deste período de sono, os alunos apresentavam níveis significativamente mais baixos de testosterona em comparação com a noite normal.

“Sendo a testosterona uma hormona que oscila ao longo das 24 horas do dia, a sua produção, nomeadamente o seu pico, depende do sono, e se o sono é fragmentado ou reduzido, os seus níveis diminuem na manhã seguinte, sendo isto uma realidade válida para todas as idades”, frisou Miguel Meira e Cruz.

O Dia Mundial do Sono é uma iniciativa da Associação Mundial de Medicina do Sono que se comemora anualmente em cerca de 75 países e que chama a atenção para a importância do sono regular diário. Segundo esta associação, 21% dos adultos dorme menos de seis horas por dia. Estima-se que 25% dos portugueses sofre de insónia crónica, com especial incidência nas mulheres e idosos.