"As pessoas ficam muito assustadas quando terminam o tratamento e dizem ‘já me livrei deste processo mas agora não me consigo lembrar de nada'. ‘Consegui vencer o cancro mas agora estou com alzheimer' é outra das frases que ouvimos", descreveu à agência Lusa a presidente da Mama Help, Maria João Cardoso.

Em causa está o facto de, além da cirurgia, muitos doentes com cancro fazerem tratamentos de radioterapia, quimioterapia, tratamentos biológicos e tratamentos hormonais, terminando-os frequentemente com a sensação de que estão ao telefone, por exemplo, e não se lembram de quem ligou ou no trabalho e esquecem-se do que lhes pediu o chefe.

Maria João Cardoso explicou que a isto se chama "o nevoeiro da quimioterapia" e "só percebendo como funciona é que é possível reduzir um bocadinho a ansiedade" pós-tratamento.

A quimioterapia continua a ser o tratamento por excelência na luta contra o cancro, mas, sendo "bom" no combate à doença, também é "cego" porque atinge as células boas, logo afeta temporariamente o cérebro com alterações temporárias das funções cognitivas.

Para perceber como combater esse "nevoeiro" a Mama Help propõe um debate "mais interativo que expositivo" que vai juntar três equipas da Fundação Champalimaud: Programa de Neurociências, Unidade de Mama e Unidade de Neuropsiquiatria.

A diretora da associação avançou que, partindo do princípio de que os efeitos da quimioterapia sobre o cérebro não são definitivos, existem formas de melhorar através de abordagens de neuropsiquiatria e neuropsicologia.

Para reativar os sistemas ativadores do cérebro existem jogos e medicação. De forma geral as palavras cruzadas, o descubra as diferenças ou ver os pares ao virar as cartas são jogos de estimulação de memória mas sexta-feira, a partir das 18:30 na Fundação António Cupertino de Miranda, vários especialistas vão debater abordagens específicas.

"Há falta de informação sobre todo o processo do cancro. Felizmente cada vez há mais e cada vez mais as associações se preocupam com isso mas para percebermos um bocadinho o que está implicado não só na doença mas também nos tratamentos, temos de perceber como tudo funciona", defendeu Maria João Cardoso quando questionada sobre lacunas de informação sobre o pós-tratamento.

"O reentrar na vida normal, implica que a pessoa entenda quais são os mecanismos da doença e do tratamento para conseguir reduzir a ansiedade. As pessoas voltam ao normal, têm é que entender porque é que não voltam ao normal no dia seguinte", completou a diretora do Mama Help que realiza a iniciativa agora no Porto, depois de em julho ter promovido uma sessão semelhante em Lisboa.