30 de maio de 2014 - 14h44
Segundo a OMS, mais de metade da população mundial corre risco de contrair doenças transmitidas por vetores, causa de um terço da mortalidade no mundo. Apesar de ocorrerem com maior predominância em áreas tropicais e subtropicais, nos últimos anos assiste-se à sua disseminação para outras áreas geográficas, com a Europa no horizonte.
A possibilidade de (re)introdução de doenças como a dengue e a malária no espaço europeu foi motivo de análise no encontro da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP) sobre doenças transmitidas por vetores. Médicos e outros profissionais da saúde debateram estratégias integradas para o controlo vetorial e a implementação de medidas de saúde pública adequadas. 

Mais viagens, crise, aquecimento global e novas práticas agrícolas como causas
Apesar dos casos de doenças vetoriais ocorrerem habitualmente em áreas tropicais e subtropicais, nos últimos anos assiste-se à sua disseminação para outras áreas geográficas. Esta propagação deve-se a vários fatores, nomeadamente o aumento das viagens e comércio internacional, a introdução de novas práticas agrícolas, a evolução sócio demográfica da população, as migrações, as alterações climáticas e, atualmente, à crise que a Europa atravessa. 
Segundo António Tavares, Delegado Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, a crise veio acentuar a pobreza e a criação de novos pobres o que “provoca, por falta de capacidade económica, a privação de certas necessidades básicas como os cuidados de saúde. Esta situação cria uma maior propensão para certas doenças, uma sobrecarga do Serviço Nacional de Saúde e a uma incapacidade de reposta dos profissionais a todos os grupos mais vulneráveis.”
Mosquitos como portadores mais comuns
Os vetores transmitem a infeção através de picada quando eles próprios são portadores de vírus e parasitas. Os mais comuns são os mosquitos (de várias espécies), mosca da areia e carraças. Apenas uma picada pode transmitir doenças como malária, dengue, chikungunya, febre do Nilo Ocidental, leishmaniose, doença de Lyme, febre amarela, encefalite japonesa, entre outras.
De acordo com Maria João Martins, Coordenadora da Unidade de Saúde Pública de Lisboa Central, “muitas doenças são transmitidas por vetores que se não forem devidamente controlados, podem fazer-se levar em transportes internacionais e multiplicar-se, representando um risco para tripulantes, passageiros e propagando doenças noutros países.” 

A monitorização destas doenças é uma preocupação habitual da Direção-Geral da Saúde (DGS), de outras Instituições do Ministério da Saúde, como o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, ou de centros de investigação portugueses como o Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) ou o Centro de Estudos de Vetores e Doenças Infecciosas Francisco Cambournac (CEVDI).
Também o INSA coordena a Rede de Vigilância de Vetores (REVIVE), que, de acordo com Fernanda Santos, do INSA/CEVDI, tem “como principal objetivo melhorar o conhecimento sobre as espécies de vetores presentes no país, vigiar a sua distribuição e atividade sazonal, contribuindo para o esclarecimento do seu papel como agentes de transmissão da doença e detetar atempadamente a introdução de espécies invasoras com importância em saúde pública, assim como emitir alertas".
As recentes notificações de casos de transmissão autóctone de dengue e febre chikungunya na Europa mostra a nossa vulnerabilidade a estas doenças em áreas onde o mosquito invasor está presente. É, por isso, necessário reforçar a vigilância de espécies de mosquitos, em áreas de risco de importação e propagação de mosquitos ou de transmissão do vírus.
Isto é particularmente importante no contexto das mudanças climáticas que podem permitir um aumento de população de vetores e a amplificação do vírus.  
Por SAPO Saúde