7 de junho de 2013 - 11h19
A presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) receia que o aumento das horas de trabalho se vá traduzir em mais custos para o setor e considera que a redução dos trabalhadores menos qualificados teria “consequências devastadoras”.
À frente desta associação há um mês, Marta Temido defende uma política estratégica para os recursos humanos, lembrando que estes são responsáveis por 70 por cento das despesas nos hospitais.
Em entrevista à agência Lusa, a administradora do Hospital de Cantanhede manifestou-se contra “medidas avulsas” nesta área e disse recear o impacto do anunciado alargamento do horário de trabalho para as 40 horas semanais.
“Trabalhar mais não significa produzir mais, mas por uma lógica normal, trabalhar mais horas irá trazer uma maior quantidade de cuidados de saúde produzidos. Será que temos a capacidade de a pagar”, questionou.
Para Marta Temido, “para o alargamento do horário de trabalho ser rentável não basta contar com mais horas de força de trabalho. É preciso contar com os custos de exploração concretos: custos com consumíveis, por exemplo. E são mais custos”.
Por outro lado, avançou, os profissionais “podem estar mais horas disponíveis e nem por isso estarem a trabalhar com eficiência”.
“Discutimos tanto as horas que as pessoas estão a trabalhar e não discutimos o que estão a fazer dentro das horas de trabalho disponíveis”, disse, defendendo uma análise do desempenho para saber como estão organizadas e o que estão a fazer.
Questionada sobre a saída de trabalhadores menos qualificados, no âmbito da reforma do Estado, Marta Temido disse que esta teria “consequências devastadoras”.
Isto porque, “hoje em dia, a atividade dos hospitais reside muito no trabalho em equipa, mais do que no ato de saúde do médico, enfermeiro ou técnico”, lembrou.
“Pensar que vamos abdicar de profissionais menos diferenciados por restrições financeiras significa que se vai aceitar que profissionais mais diferenciados vão ter de fazer também esse trabalho, porque alguém vai ter de o fazer, o que é tudo menos eficiente”, disse.
A administradora exemplificou: “Se prescindo de ter um enfermeiro no gabinete da consulta para apoiar o médico, então assumo que o médico vai fazer as tarefas da consulta que está a fazer e realizar um conjunto de atividades que o enfermeiro poderia fazer”.
“Se eu assumo que prescindo [dos assistentes operacionais] estou a aceitar que o médico vai chamar os doentes para a consulta e preencher ele determinados papéis administrativos. É para isso que pagamos aos médicos? Que os formamos? É para isso que os queremos? É isso que é eficiente?”, questionou.
Para a gestora, “a eficiência tem de ser uma opção inteligente e não uma solução de recurso acéfala”, moostrando-se apreensiva com a desmotivação dos profissionais.
Marta Temido atribui parte desta desmotivação à forma como algumas medidas têm sido explicadas aos profissionais, como o controlo da assiduidade.
“Algumas medidas incontornáveis em qualquer empresa – como o controlo biométrico de assiduidade – talvez tenha sido implementado da forma menos boa, como um instrumento de controlo e de tortura e não explicado como um instrumento normal da vida de uma empresa”, avançou.
Lusa