A propósito do Dia Europeu do Enfermeiro Perioperatório, que se assinala no domingo, a Associação dos Enfermeiros de Sala de Operações Portugueses (AESOP) vem alertar para estes acidentes que expõem os profissionais de saúde “a um maior risco de transmissão de doenças pela projeção de fluídos contaminados, picada ou contato com pele não-integra”.

Segundo a presidente da AESOP, Mercedes Bilbao, estima-se que com procedimentos cirúrgicos (área de maior risco), 6,4 por cento dos incidentes sejam com objetos corto-perfurantes, sendo que em Portugal se realizam à volta de 500 mil cirurgias por ano.

Também um estudo envolvendo sete mil profissionais de saúde indicou que 41% dos enfermeiros relataram ter tido na sua vida lesões por corto-perfurantes, acrescentou, sublinhando que estes dados são inferiores à realidade porque estes acidentes estão sub-relatados.

Na Europa calcula-se que 1 milhão de profissionais de saúde sofre anualmente um acidente inadvertido com corto-perfurantes, refere a responsável, sublinhando que a maioria destes incidentes pode ser evitada com as medidas reguladas por uma diretiva comunitária de 2012, transposta para a legislação portuguesa em 2013, “que não está a ser cumprida”.

Esta regulamentação estabelece políticas de avaliação de risco, formação e treino, práticas seguras no ambiente de trabalho e tecnologia de segurança incorporada nos dispositivos médicos, continua Mercedes Bilbao.

“Continua a ser urgente consciencializar os profissionais do bloco operatório, que o seu melhor aliado na prevenção de acidentes é o seu comportamento diário, através de um melhoria sistemática da prática na manipulação de dispositivos corto-perfurantes”, afirma.

Mercedes Bilbao estabelece o “objetivo zero” para estes incidentes, que “não deviam acontecer”, e salienta que não basta dar formação aos profissionais, é preciso um conjunto de medidas que têm que ser interiorizadas.

“Avaliação do risco de todos os locais de trabalho, possuir materiais de proteção individual de qualidade e introduzir nos dispositivos corto-perfurantes engenharias de segurança”, são algumas das medidas apontadas.

Na opinião de Mercedes Bilbao todos os intervenientes têm responsabilidades, não só os profissionais de saúde têm que ter boas práticas, como as organizações têm que instituir uma política de segurança e dar suporte aos profissionais, os hospitais que têm que fornecer matérias e as tutelas que têm que estar sintonizadas.

“Estas medidas deviam ser dinamizadas, como a campanha de lavagem de mãos, que foi lançada durante a gripe A, ou da utilização do cinto de segurança pelos condutores, que conseguiram que todos interiorizassem as mensagens e as praticassem”, defendeu.

Com o objetivo de divulgar o seu trabalho na sociedade e consciente de que a infância seria um dos alvos para mostrar o trabalho perioperatório, a AESOP foi este ano a 35 escolas apresentar o ambiente do bloco operatório, ensinar qual o papel do enfermeiro, o que uma criança pode encontrar naquelas unidades e quais os maiores riscos que envolvem a cirurgia, tudo num “ambiente de brincadeira”.

Mais de 1.800 alunos do primeiro ciclo participaram na iniciativa, que incluiu um concurso de desenho infantil subordinado ao tema “A representação que as crianças têm do Enfermeiro de Bloco Operatório”, e cujos três melhores receberão prémios no domingo.