22 de abril de 2013 - 16h53
O responsável da Direção Nacional de Saúde Pública de Angola Filomeno Fortes admitiu hoje que apenas uma pequena parte das pessoas infetadas com dengue no país está diagnosticada porque os testes de despiste são poucos.
Em declarações aos jornalistas à margem do Congresso Nacional de Medicina Tropical, a decorrer em Lisboa, Filomeno Fortes, chefe de departamento de controlo de doenças da Direção Nacional de Saúde Pública em Angola, disse que esta é a primeira vez que Angola enfrenta uma epidemia de dengue e as autoridades estão a tentar ver qual a prevalência da doença.
O ministro da Saúde de Angola disse na sexta-feira que, até àquele momento, tinham sido notificados 50 casos de dengue, todos em Luanda e sem registo de mortes.
Hoje, Filomeno Fortes explicou que os números dizem pouco sobre a realidade do país, já que "a capacidade de diagnóstico é limitada".
"Devemos ter muitos casos de dengue a circular no país, mas só uma pequena parte tem acesso ao diagnóstico diferencial", explicou, lembrando que só agora as autoridades estão a introduzir os testes para confirmação da doença.
O teste que está a ser utilizado "existe em pequena quantidade e apenas em algumas unidades de saúde. O serviço nacional de saúde não está neste momento preparado para fazer diagnóstico em todas as unidades", reiterou.
O também professor de saúde pública na faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto, em Angola, admitiu mesmo que Angola já tenha tido outros pequenos surtos de dengue, que acabaram por ser confundidos com casos de malária.
"Os síndromas febris em Angola são muito confundidos. Temos em média, por ano, três milhões de casos clínicos de malária, desses apenas 60% são submetidos a diagnóstico laboratorial. De forma geral, tudo o que é febre em Angola é diagnosticado como malária", explicou.
Desta vez, no entanto, "com a globalização da dengue e com a chegada a Angola de expatriados saídos de países híper endémicos de dengue", o país tem assistido a um aumento do número de casos, acrescentou o especialista, adiantando que o mosquito que transmite a doença existe em Angola e está infetado.
Portugueses diagnosticados
Alertadas para a situação do dengue, as autoridades de saúde estão a criar 'sítios sentinela', para onde os casos suspeitos são encaminhados, explicou ainda.
Filomeno Fortes disse ainda que os primeiros casos de dengue foram diagnosticados em expatriados chineses e depois disso a doença já foi diagnosticada em portugueses, brasileiros e angolanos.
Cerca de 30 portugueses foram diagnosticados já em Portugal, nomeadamente na consulta pós viagem do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, em Lisboa, disse à Lusa fonte da instituição.
Para já, os casos de dengue identificados são de tipo 1 e não há indicação "de que possa criar grandes complicações", disse o especialista angolano, afirmando que a maioria dos casos "evolui naturalmente", desde que o paciente cumpra as regras básicas de repouso, controlo da febre e ingestão de água.
De acordo com a Direção-Geral da Saúde (DGS), a febre de dengue tem um período de incubação de três a sete dias, podendo prolongar-se até 14 dias.
Os sintomas de dengue surgem entre três a 14 dias após a picada do mosquito infetado. A doença manifesta-se, geralmente, por febre, dores de cabeça, dores nos músculos e nas articulações, vómitos e manchas vermelhas na pele e, embora mais raramente, por um quadro hemorrágico.
Lusa