Grupo de peritos identifica baixa literacia em saúde como fator influenciador dos níveis de saúde da população, da utilização dos serviços de saúde e dos gastos desnecessários no setor. Promover a literacia em saúde em Portugal passa pela criação de uma estratégia que inclua uma avaliação dos projetos já em curso na área.

Foram ontem apresentadas, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, as conclusões do Think Tank “Saúde que Conta”. Trata-se de uma iniciativa de investigação nacional, no âmbito da Capacitação do Cidadão, dedicada ao tema da literacia em saúde dos portugueses, da responsabilidade da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) com o apoio da Lilly Portugal.

“Para que o cidadão se reposicione no sistema de saúde e assuma, efetivamente, um papel mais ativo na sua saúde e no próprio sistema, é necessário ajudá-lo no processo de aquisição das competências necessárias para o fazer” afirma Ana Escoval, da Escola Nacional de Saúde Pública e Coordenadora do projeto “Saúde que Conta”.

Analisando o estado da arte da literacia em saúde em Portugal e a sua influência nos resultados em saúde, os peritos concluem que inadequados níveis de literacia em saúde aumentam a suscetibilidade de adotar comportamentos de risco e traduzem-se numa pior condição de saúde, com maior taxa de morbilidade em doenças como Diabetes, Hipertensão, Obesidade e Infeção por VIH/Sida;

Relativamente ao nível da influência da literacia em saúde na utilização dos serviços de saúde, os especialistas concluem que um nível inadequado de literacia em saúde reflete-se numa utilização menos eficiente dos serviços de saúde e numa menor utilização de cuidados preventivos, como rastreios oncológicos (por exemplo citologia, mamografia e colonoscopia) e menor taxa de vacinação. Uma baixa literacia em saúde reflete-se, também, numa maior taxa de hospitalizações e de utilização das urgências hospitalares.

Um nível de literacia em saúde inadequado conduz, ainda, a uma autogestão e/ou controlo deficiente em caso de doença crónica. Tal pode traduzir-se numa maior dificuldade em tomar corretamente a medicação e em saber o que fazer no caso de esquecimento, na identificação de reações adversas e na identificação de cada medicamento em toma, no caso de polimedicação.

Relacionando a literacia em saúde com os gastos do setor, os peritos acreditam que a promoção da literacia em saúde pode mudar o comportamento das pessoas bem como o seu perfil de utilização do sistema e dos recursos de saúde, o que pode significar uma poupança nos gastos em saúde. Os especialistas consideram que se existir um investimento mais significativo na promoção de literacia em saúde existirá uma melhor utilização dos serviços de saúde, diminuição dos comportamentos de risco em saúde e, consequentemente, uma diminuição dos gastos em saúde.

Estratégias de promoção da literacia em saúde
Os peritos concluem que a promoção da literacia em saúde em Portugal deve fazer-se a partir dos sistemas de informação, promovendo o acompanhamento, apoio e cooperação entre projetos em curso; através da definição de prioridades planeadas para o futuro, nomeadamente que diz respeito à gestão das doenças crónicas; desenvolvendo metodologias de avaliação e garantindo a sustentabilidade organizacional e financeira dos projetos. Todos estes eixos estratégicos devem ser desenvolvidos com a participação dos principais stakeholders da saúde.

Sessão Pública Think Tank Saúde que Conta
Para além da apresentação das conclusões, a sessão pública do Think Tank conta com a conferência da Professora Kristine Sørensen, Coordenadora do Health Literacy Survey - Europa, que, para além de apresentar o estado da arte europeu no que diz respeito à temática, partilha os últimos dados do questionário que pretende estabelecer uma rede Europeia de Literacia em Saúde.

Durante a sessão decorreu, ainda, a apresentação de um instrumento que materializa o papel das tecnologias de informação na promoção da literacia em saúde dos cidadãos. Os atuais sistemas de informação de saúde permitem tanto aos médicos como aos cidadãos organizar a sua informação de saúde e interagir de forma a melhorar a qualidade dos cuidados de saúde. Estas aplicações das tecnologias de informação de saúde desempenharam assim um papel muito significativo na promoção da literacia em saúde dos cidadãos.

Com o objetivo de analisar e promover a literacia em saúde dos portugueses, o Think Tank “Saúde que Conta” tem a participação de um conjunto de peritos nacionais que pretendem contribuir para a reflexão e debate público sobre a capacitação do cidadão em saúde.

30 de março de 2012

@GCI