12 de fevereiro de 2014 - 09h44

A cidade de Lisboa contava, em dezembro do ano passado, com 852 sem-abrigo, na sua maioria homens, portugueses, solteiros e sem fontes de rendimento, segundo um levantamento cujos resultados são hoje apresentados pela Santa Casa da Misericórdia.

Na contagem, realizada a 12 de dezembro de 2013, foram sinalizados 509 sem-abrigo na rua e 343 que dormiram em Centros de Acolhimento nessa noite.

As freguesias de Santa Maria Maior e do Parque das Nações registaram a maior concentração, com 83 pessoas cada, seguidas de Santo António, com 64.

A operação teve a participação de mais de 800 voluntários que percorreram todas as ruas da capital e foi o culminar do trabalho desenvolvido pelo “Programa Intergerações | InterSituações de Exclusão e Vulnerabilidade Social” que, de abril a dezembro de 2013, contactou com 649 sem-abrigo, dos quais 454 responderam a um inquérito.

Segundo a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, na origem da situação de exclusão estão, na maior parte dos casos, conflitos familiares e relacionais, o desemprego e a doença física ou mental.

Dos 454 inquéritos feitos, conclui-se que 30,6% dos sem-abrigo está na rua há menos de um ano, 17% entre um a três anos e 15%, entre três a seis anos.

Cinco por cento encontra-se há mais de duas décadas em situação de vulnerabilidade e surgiu um caso de uma pessoa que vive na rua há 40 anos.

A grande maioria dos sem-abrigo inquiridos é homem (87%) e tem entre 35 e 54 anos (48%), seguido pelo escalão 55-64 anos (20%).

A pessoa mais nova contactada tem 16 anos e a mais velha 85.

Os sem-abrigo inquiridos são maioritariamente solteiros (44,5%) e portugueses (58,4%), tendo sido registados 14,3% sem-abrigo pertencentes a outros países da União Europeia, alguns dos quais querem apenas um bilhete que lhes permita regressar a casa.

Quanto à educação, um terço concluiu o ensino secundário, técnico ou
superior, 4,6% têm qualificações superiores e 7,7% não sabe ler nem
escrever.

A grande maioria (71,8%) não tem atualmente qualquer fonte de rendimento e 68,9% recebe apoio na alimentação.

Muitos preferem também dormir na rua por considerarem que os centros de
acolhimento noturno não são adequados, quer pelo elevado número de
pessoas seguidas, quer pelo “desfasamento de horário com as suas rotinas
de higiene – levantam-se entre as 04:00 e as 07:00, mas estes espaços
só abrem às 09:00 ou mesmo depois”, indica a Santa Casa.

Apenas 36,3% dos sem-abrigo recorre àqueles centros de acolhimento.

Dos inquiridos, 54,2% dizem ter filhos, mas 36,2% não mantêm contacto em
eles. Contudo, 13,8% afirmam ter contacto diário ou quase diário e
66,8% tem contactos frequentes com outros familiares.

A nível de saúde, apesar de 45,2% ter problemas de saúde, a maior parte
não frequenta regularmente o médico ou outras entidades promotoras de
saúde.

Só cinco por cento referiram ter apoio em cuidados primários ou na
medicação, sendo os problemas de saúde oral, diabetes, doenças
cardiovasculares, pulmonares e neurológicas e doenças sexualmente
transmissíveis os mais comuns.

Dos inquiridos, apenas 15,4% revelaram sinais de desorganização mental,
quase metade (48,5%) afirmaram nunca ter tido consumos aditivos de
álcool (contra os 30,4% que ainda têm problemas desta natureza) e 63,9%
disseram nunca ter consumido estupefacientes (face aos 8,8% que têm
problemas a este nível).

Após a análise destes dados, a Santa Casa da Misericórdia lança o apelo
aos organismos públicos e privados para concertarem “estratégias para
mudar o paradigma de intervenção junto dos sem-abrigo, evoluindo da
assistência para a reintegração social”.

A Santa Casa sublinha, ainda, a urgência de se adaptarem as respostas
existentes, “permitindo o acesso a cuidados de saúde e adequando os
horários e serviços dos espaços de acolhimento às reais necessidades
desta população”.

A apresentação dos resultados desta contagem vai ser feita às 17:00, na
sede da Santa Casa da Misericórdia, por Rita Valadas, administradora da
instituição para a Ação Social, João Marrana, coordenador do programa, e
Paulo Ferreira, sociólogo.


SAPO Saúde com Lusa