15 de maio de 2014 - 10h33
A Associação Sol discute hoje o futuro dos jovens seropositivos que vivem na instituição, têm dificuldades acrescidas em entrar entrar no mercado de trabalho e medo de serem afastados uns dos outros porque a casa onde vivem foi vendida.
Muitos destes jovens entraram para a instituição com 15 dias ou escassos meses de idade, hoje já têm 17, 18 e 19 anos e enfrentam um novo problema: o ingresso no mercado de trabalho.
“Já é tão difícil, as pessoas que não têm nenhum problema de saúde arranjarem emprego, quanto mais estes [jovens]”, que têm de enfrentar a discriminação no mercado de trabalho, ainda que “um bocadinho encapotada”, disse à agência Lusa a presidente da associação.
Teresa D´Almeida disse que há profissões que “estes jovens nunca podem ter na vida, mesmo que queiram”.
“Tenho uma jovem que quer ser cozinheira e nós sabemos o que aconteceu a um cozinheiro há uns anos”, exemplificou a responsável, que falava à Lusa a propósito do colóquio "Futuro Condicionado: Profissões Vedadas aos Seropositivos", que decorre hoje em Lisboa.
Contou que há outro jovem que “tem imenso jeito para jogar futebol, mas não pode ser jogador”, um facto que disse compreender porque “são desportos de contacto e era muito complicado se houvesse perda de sangue no relvado”.
Também “há grandes problemas” para quem pretende ser enfermeiro ou médico, disse Teresa D´Almeida, contando que tem conhecimento de “dois ou três casos que tiveram de deixar a profissão”.
“Se eles sabem o que têm de fazer quando há uma perda de sangue ou qualquer coisa que possa ser um veículo de transmissão, se assumem, porque será que poderão ter grandes dificuldades no mercado de trabalho?”, questiona.
Além desta preocupação, os 14 jovens que atualmente vivem na instituição “estão aterrorizados” com a ideia de serem separados por terem de sair da casa, que era propriedade da Administração Regional de Saúde (ARS) e foi vendida à empresa Estamo.
Segundo Teresa D´Almeida, a casa tem de ficar vazia até abril do próximo ano.
“Aqui começa a nossa preocupação e a deles, que já são crescidos e percebem”, disse, contando que a associação já tem “uma casa prometida” pela Administração Regional de Saúde, nos Olivais.

“Até temos acesso à chave, só que me dá a entender que só nos cedem a casa se tivermos os 250 mil euros para as obras e isso não podemos garantir”, sustentou.
A presidente da associação contou que a Sol tem vivido grandes dificuldades desde que ocorreu há três anos uma “campanha fundamentada numa mentira” contra a instituição, referindo-se ao caso de alçumas funcionárias da instituição que em 2010 se queixaram à PSP de três colegas que acusavam de agredir verbal e fisicamente algumas crianças.
O caso foi posteriormente encaminhado para o Ministério Público, que viria a deduzir acusação contra a funcionária, que acabou por ser condenada, com pena suspensa, por quatro crimes de maus tratos a menores.
“Foi horrível, não sabem o mal que fizeram”, disse, comentando que “a imagem da instituição ficou muito amachucada, as pessoas ficaram muito desconfiadas com a Sol”.
A associação queria promover atividades e um espetáculo de angariação de fundos para as obras da nova casa, “mas não há recetividade”, ao contrário do que acontecia antigamente, lamentou.
“Estes jovens estão aterrorizados e isso até em relação à saúde é péssimo”, sublinhou, questionando: “Se a Sol acaba, qual será o futuro destas crianças”.
“Eles olham e têm um muro à frente que não conseguem ultrapassar e esta é a grande preocupação”, disse, frisando: “É preciso não esquecer que estes meninos não têm mais ninguém”.
Fundada há 21 anos, a Casa Sol acolhe crianças que nascem seropositivas, que “são negligenciadas, abandonadas, tomam medicamentos várias vezes por dia, toda a vida” e são sujeitos a internamentos prolongados.
No colóquio promovido pela Sol participam o bispo D. Januário Torgal Ferreira e o diretor-geral da Saúde, Francisco George, entre outros.
Por Lusa