“Agora que o caráter progressivo da doença do alcoolismo é melhor compreendido, os jovens estão a reconhecer que, quando se é alcoólico, o melhor momento para travar a doença é na sua fase inicial”, refere a associação, na véspera do Dia Mundial dos Alcoólicos Anónimos.

Esta realidade vai ao encontro dos resultados do relatório “A situação do país em matéria de álcool 2014”, do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), segundo o qual os jovens portugueses estão mais conscientes dos riscos de consumir bebidas alcoólicas do que os europeus.

O relatório aponta que a maioria dos jovens (59%) entre os 15 e os 24 anos consideram de “alto risco” o consumo regular de álcool, enquanto 36% o classificaram de “médio risco”.

Os Alcoólicos Anónimos sublinham que o facto de rapazes e raparigas se sentirem cada vez mais atraídos pelo programa é “uma das tendências mais encorajadoras no crescimento” da associação.

Em declarações à agência Lusa, Fernanda (nome fictício), membro dos AA, adiantou que “os Alcoólicos Anónimos são uma solução que responde a qualquer fase do alcoolismo, desde a pessoa que começa a sentir os primeiros danos, até à pessoa que bebe na rua”.

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“A primeira fase da doença começa logo que a pessoa ingere álcool para se sentir mais desinibida”, uma situação que pode ser um “indício que começa a existir um problema com o álcool”, disse Fernanda.

Depois as quantidades de álcool que ingere vão aumentando e começa a haver “um descontrolo”: O jovem “bebe demais, mesmo que não queira, e começa a haver danos, como falta de rendimento na escola, problemas com os pais, professores e amigos e alguma agressividade”, contou.

Segundo Fernanda, os jovens procuram ajuda quando começam a sentir os efeitos nocivos do álcool e depois de “usufruírem do período de euforia em que acham que o álcool é ótimo”.

Muitos dos jovens que recorrem aos AA “andam na casa dos 20, alguns ainda nem lá chegaram” e “reconheceram que são alcoólicos”, refere a associação.

“A sua necessidade de recuperação é tão premente quanto a de homens e mulheres mais velhos que não tiveram a oportunidade de recorrer a AA na sua juventude, acrescenta.

Também procuraam apoio nos AA cada vez mais mulheres, de todos os estratos sociais, que representam cerca de um terço dos membros da associação.

“Chegam muito mais mulheres do que chegavam anteriormente, embora se note mais nas zonas urbanas”, disse Fernanda, apontando com explicação para este aumento o facto de “haver mais informação” e de estarem “mais à vontade para procurar a solução para o seu problema”.

A associação salienta que “algumas mulheres podem eventualmente sentir-se mais estigmatizadas pela sua maneira descontrolada de beber, devido à tendência da sociedade em olhar o comportamento das mulheres de forma diferente”.

“A vergonha e a culpa são grandes nas mulheres, mas também nos homens”, mas a “reação social é diferente”, disse Fernanda, sublinhando que este comportamento é mais censurado nas mulheres do que nos homens.

Dados da Organização Mundial da Saúde relativos a 2015 referem que Portugal é um dos dez países com maior consumo de álcool per capita do mundo, com uma média de 12,5 litros.