A edição de um livro que pudesse "ser lido e interpretado por estas crianças" constituía um sonho de Maria João Santos, que há anos se depara com a dificuldade da filha Pilar, portadora de Trissomia21, em ler obras e autores tradicionais.

"São crianças que conseguem ler mas têm dificuldade em fixar uma história complicada e em ler palavras difíceis", explica à Lusa a mãe da criança.

Com o objetivo de aproximar a sua filha da leitura, bem como todas as crianças que sofrem da mesma condição, Maria João sugeriu à jovem escritora Maria Calderón Pimentel a redação, em 10 dias, de um livro desta índole.

O curto espaço de tempo que tinham para realizar a obra prendia-se à comemoração do 25.º aniversário da Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21 (APPT21) e à iniciativa “Pintar para lá dos Riscos!”, que decorre entre 18 e 24 de junho e visa aproximar estes jovens da produção artística.

O objetivo foi conseguido e a Chiado Editora, que já havia publicado a versão original do livro escrito por Maria Pimentel aos 16 anos, garantiu a edição desta versão.

O processo de adaptação do livro, que reúne as confidências de uma rapariga sobre a família e os amigos, foi acompanhado por Maria João, que admite ter “usado” a filha como revisora, para “terem a certeza que estavam a fazer o certo.”

A versão adaptada é fiel à história original mas “sem muitas descrições, devido à dificuldade destas crianças em interpretar coisas abstratas”, explica Maria João Santos.

Ao contrário de metáforas e reflexões, o livro padece agora de um maior romantismo. “São miúdos de uma grande sensibilidade e o romance faz parte deste imaginário encantado", acrescenta.

O livro foi apresentado hoje, na Galeria de São Mamede, em Lisboa.