7 de março de 2014 - 09h45
Investigadores do Instituto Gulbenkian Ciência (IGC) descobriram pela primeira vez a evolução e as diferentes mutações que sofre a bactéria E. coli no intestino, abrindo portas a novas estratégias de combate às doenças, foi hoje divulgado.
O trabalho levado a cabo por três grupos de investigação do IGC, liderados pela investigadora Isabel Gordo, é publicado na última edição da revista científica PLoS Genetics.
A investigação partiu do conhecimento de que o intestino humano aloja um número de bactérias cerca de cem vezes superior ao número de células do corpo, que pertencem a milhares de espécies, interagem entre si e são fundamentais para a saúde, mas permanece desconhecido o ritmo a que cada espécie evolui.
Para os cientistas é claro que os desequilíbrios entre os milhares de espécies existentes podem resultar em doença, mas as transformações de cada espécie podem contribuir para que uma dada espécie inócua se torne prejudicial para o hospedeiro.
As três equipas do IGC juntaram então esforços para desvendar pela primeira vez de que forma a bactéria Escherichia coli (E. coli) se adapta e evolui no intestino do rato.
Os investigadores mostraram que rapidamente surgem E. coli com diferentes mutações e, consequentemente, uma grande variação genética é gerada ao longo do tempo nesta espécie.
Os resultados do estudo revelam um grau de complexidade na macrobiótica intestinal desconhecido até agora, demonstrando uma enorme riqueza na dinâmica evolutiva de cada bactéria, e será fundamental no desenvolvimento de novas estratégias para combater doenças através da manipulação de micróbios do intestino, afirma o IGC em comunicado.
Durante vários anos a evolução das bactérias tem sido estudada em ambientes altamente artificiais, mas os investigadores do IGC propuseram-se estudar a evolução da E. coli no seu ambiente natural: o intestino.

Assim, os investigadores colonizaram ratos com E. coli e analisaram as fezes para as mutações que entretanto surgiram no interior do intestino.
Os resultados indicam a ocorrência de muitas mutações, sendo que as bactérias que transportam mutações diferentes competem para se fixarem no intestino.
Em resultado desta competição surge um processo de evolução com uma grande diversidade de estirpes de E. coli.
Para identificar os genes importantes para a adaptação ao intestino, os investigadores estudaram geneticamente as estirpes da E. coli que surgiram, tendo concluído que há “inativação de genes”, que permitem às bactérias crescerem melhor na presença de produtos gerados pelo metabolismo do hospedeiro.
Os investigadores descobriram ainda que, apesar da alta complexidade do ambiente natural estudado (intestino), o processo evolutivo é altamente reprodutível, pois as mesmas mutações verificaram-se em populações de E. coli em diferentes ratos.
Lusa