O trabalho, coordenado por Rita Vasconcelos, investigadora do MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, é publicado hoje na revista científica Scientific Reports.

A equipa mapeou os estuários existentes no mundo, a intensidade do tráfego marítimo, a densidade da população humana nos diferentes continentes e as áreas naturais protegidas - terrestres, estuarinas e marinhas -, partindo de uma base de dados, que agrega cerca de 400 estuários com aproximadamente 2.500 espécies de peixes, e de informação de trabalhos anteriores.

Pergunta lançada: será que se está a proteger as espécies de peixes mais sensíveis, as que têm, por exemplo, uma taxa de reprodução e crescimento mais lento? Resposta: não, em particular na Europa, defendem os cientistas do MARE.

"A extensão da proteção não está a ser feita com base na sensibilidade das espécies que existem [nos estuários], é fruto de outras diretrizes", sustentou, em declarações à Lusa, a investigadora Rita Vasconcelos, assinalando que os estuários europeus têm "muitas espécies de peixes sensíveis, pressões humanas altas", decorrentes da densidade populacional, carga de poluição e pesca, mas a sua "proteção não é alta".

O estudo debruça-se, à escala global, sobre as relações entre a vulnerabilidade dos estuários e dos peixes que neles vivem, o impacto da atividade humana (poluição, mas sobretudo pesca) a que estão sujeitos e as medidas de conservação existentes, sem apresentar informação individualizada para cada estuário.

Um estuário é, por definição, um ambiente aquático de transição entre o rio e o mar, contendo espécies de peixes próprias de rios e oceanos. De acordo com o rastreio feito pelos cientistas portugueses, a propensão é para haver peixes mais sensíveis à pressão humana, em especial à pesca, à medida que os estuários se vão afastando da linha do Equador em direção aos polos e "estão mais abertos para o mar".

Estes estuários são maiores dos que estão mais próximos do Equador, têm tendencialmente peixes maiores (com crescimento mais lento) e carnívoros (peixes que comem outros peixes).

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