23 de abril de 2014 - 12h59

Um estudo realizado no Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto identificou o transporte de componentes celulares dentro dos neurónios como o alvo principal na regeneração de lesões no sistema nervoso.

O trabalho, publicado na revista The Journal of Neuroscience e a que a Lusa teve hoje acesso, traz à luz novos caminhos para resolver um dos grandes desafios biomédicos: “a razão pela qual os neurónios da espinal medula, ao contrário dos do sistema nervoso periférico, são incapazes de regenerar os axónios (prolongamento de uma célula nervosa que recebe os impulsos nervosos e os transmite a outras células ou órgãos) e ligações perdidas durante uma lesão”.

Segundo Mónica Sousa, que liderou a equipa de investigadores do IBMC, o maior contributo deste trabalho é “identificar o transporte axonal como um alvo importante da investigação em regeneração axonal”, referindo que “poderá ser o futuro no desenvolvimento de terapias com o fim de aumentar a regeneração axonal no sistema nervoso central adulto”.

Os autores do estudo explicam que “a maioria dos neurónios do sistema nervoso central é incapaz de regenerar os finíssimos prolongamentos, chamados axónios, que os ligam a outros neurónios. O caso mais particular é o dos axónios mais longos, que se prolongam desde o cérebro, atravessando a espinal medula, até a zonas longínquas do corpo, em extensões de cerca de um metro”.

“Estes axónios são essenciais para que a informação rapidamente percorra o caminho entre o nosso corpo e o cérebro e vice-versa. As lesões na espinal medula, em consequência de traumatismos, resultam na maioria das vezes na perda de sensibilidade e na perda de capacidades motoras, simplesmente porque os axónios foram cortados. A incapacidade de regenerar esses axónios tem sido uma das frustrações da biomedicina e o principal impedimento à recuperação de muitos acidentados”, acrescentam.

Por isso, os olhos dos investigadores viraram-se para certos
neurónios que têm uma dupla posição, ou seja, “têm axónios fora do
sistema nervoso central e axónios dentro. Esta dupla posição
confere-lhes uma plasticidade interessante, pois recuperam de lesões
primárias que sofram na parte periférica, mas não das da parte central.

Porém, se sofrerem lesões múltiplas e sequenciais, mostram ter uma
capacidade aumentada de regenerar o ramo central. De facto, se tiverem
sofrido uma lesão prévia no seu ramo periférico, o ramo central do
neurónio também ganha capacidade de regenerar”.

Desde esta
observação, referem os autores do estudo, “desdobram-se as buscas para
perceber o que se altera no neurónio aquando de uma lesão periférica que
lhe permite recuperar uma capacidade que parece perdida no sistema
nervoso central”.

O estudo publicado pela equipa do IBMC mostra
que, “quando a lesão periférica ocorre, há um aumento global do
transporte axonal, nomeadamente de proteínas, organelos e vesículas.
Este fenómeno não fica restrito ao axónio periférico lesionado,
estendendo-se ao axónio central. Se este último, o axónio central,
sofrer uma lesão subsequente, uma lesão da medula espinal, toda a
maquinaria necessária a montar a regeneração axonal já estará presente e
funcional”, explica Fernando Mar, primeiro autor do trabalho.

Lusa