A possibilidade de os mais velhos terem uma reforma a tempo parcial é uma das propostas da investigadora Maria João Valente Rosa para combater os problemas do envelhecimento da população, tema que estuda desde os anos 80.

Durante várias décadas, a investigadora da Fundação Francisco Manuel dos Santos estudou o envelhecimento da população portuguesa. Agora apresenta um ensaio que tem por base dados estatísticos que fazem um retrato da realidade: as condições de vida melhoraram, a esperança média de vida aumentou e a mortalidade e fecundidade diminuiram. Resultado: “Estamos a envelhecer”.

“Este envelhecimento demográfico veio provocar a sociedade, que tem uma incapacidade para se adaptar a este novo corpo populacional. E esta é uma tendência que se vai manter, pelo menos a médio prazo”, alertou a professora à agência Lusa, sublinhando que Portugal é o 6º país mais envelhecido do mundo.

A agravar este cenário foi surgindo uma espécie de “rótulo da idade”, que marca as pessoas como sendo mais ou menos interessantes para a sociedade consoante a sua idade.

Atualmente, os mais velhos são considerados menos interessantes o que, para a investigadora, significa “um desperdício" social e financeiro: “As sociedades valem pelo seu capital de conhecimento e esse não está limitado pela idade”.

Maria João Valente Rosa é contra o afastamento do mercado de trabalho das pessoas com mais de 65 anos. "Precisamos de aumentar a nossa produtividade e isso não se compadece com desperdiçar parcelas de pessoas. É preferível que dêem menos tempo do que prescindir delas”.

Sem estudos que o confirmem, a investigadora acredita que “a reforma não faz bem à saúde”. “Se nos primeiros tempos as pessoas ficam muito radiantes, ao fim de dois ou três anos começam a ter problemas associados ao seu novo estatuto".

No ensaio, a investigadora questiona ainda a organização da sociedade que define que os primeiros anos de vida são passados a estudar, depois a “trabalhar intensamente” e finalmente a descansar.

“A formação deve ser algo que vai percorrendo diversas fases da vida assim como o trabalho não deve acontecer unicamente na fase intermédia”, disse apresentando um modelo alternativo em que as pessoas poderiam trabalhar e ter reformas a tempo parcial.

Atualmente, a solução para a sobrevivência do sistema de segurança social parece passar apenas por três opções: reduzir o valor das pensões, aumentar os descontos de quem trabalha e aumentar a idade de reforma.

Para Maria Valente Rosa estas medidas “não vão ao fundo do problema, tendo apenas efeitos no imediato”. Por isso, apresenta uma proposta para que os governantes, empresários e a população em geral possam discutir: “aumentar o trabalho a tempo parcial e permitir uma espécie de reformas a tempo parcial”.

Em Portugal, a percentagem de pessoas a trabalhar a tempo parcial é de apenas 13%, enquanto na Holanda atingue os 49% e na Alemanha e Reino Unido os 27%.

O novo olhar sobre como lidar com as tendências demográficas é apresentado no livro “O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa” que faz parte da coleção de ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

A investigadora sublinha que o ensaio apresenta apenas mensagens para ser discutidas: “Não é um trabalho científico, é apenas uma proposta para pensarmos o que se está a passar à nossa volta”.

Quarta-feira assinala-se o Dia Mundial da População.

10 de julho de 2012

@Lusa