19 de junho de 2013 - 09h38
Uma investigadora portuguesa descobriu uma forma de aumentar o número de células estaminais, o que poderá permitir transplantes diretos destas células para doentes com leucemia e resolver o problema de falta de reservas nos bancos de sangue.
A descoberta feita por Sandra Pinho, uma cientista portuguesa a trabalhar no Albert Einstein College em Nova Iorque, será publicada no Journal of Experimental Medicine, no dia 1 de julho.
Sandra Pinho identificou em humanos uma população de células capaz de expandir o número de células estaminais hematopoieticas (as células estaminais que dão origem a todas as células do sangue, desde plaquetas a glóbulos vermelhos ou brancos), revelou hoje a instituição em comunicado.
Esta descoberta é uma porta aberta para resolver situações em que é necessário transplantar diretamente as células estaminais hematopoieticas de forma a gerar de novo todo o sistema sanguíneo, como acontece nas leucemias ou anemias crónicas.
Mas além disso, esta possibilidade de expandir o número de células estaminais hematopoiéticas poderá resolver o problema crónico de falta de dadores nos bancos sanguíneos.
A medula óssea possui uma população de células estaminais hematopoiéticas, que é responsável por fabricar durante toda a vida as células sanguíneas necessárias para a sobrevivência.
No entanto, este grupo de células é extremamente pequeno o que limita o seu uso para transplantes ou para ser usada na criação de populações sanguíneas para transfusões.
A alternativa seria descobrir como multiplicar estas células em laboratório o que até agora tem sido extremamente difícil.
Nova descoberta
Acontece que, em 2010, o laboratório de Sandra Pinho descobriu em ratinhos transgénicos pela primeira vez uma população de células estaminais mesenquimais (células capazes de se diferenciar em tecido ósseo, cartilagíneo ou adiposo) com a capacidade de regular o funcionamento das células estaminais hematopoieticas, explica a instituição.
No entanto, esta descoberta comportava em si um problema: a proteína que identificava esta nova população (de células estaminais mesenquimais) estava localizada dentro das células. Deste modo tornava-se impossível identificar e isolar as células, impedindo o seu uso em humanos, a menos que se descobrissem outras moléculas localizadas à superfície da célula, com a mesma capacidade.
No estudo agora publicado, a equipa de Sandra Pinho identificou uma série de novos marcadores que definem a mesma a população de células estaminais mesenquimais.
Esta descoberta permitiu-lhes perceber que esta população de células também existe na medula óssea humana em contacto direto com as células estaminais do sangue e, tal como em ratinhos, tem a capacidade de regular o funcionamento das células estaminais sanguíneas.
O mais promissor desta investigação foi descobrir que quando a população de células estaminais do sangue humanas, que foi expandida em laboratório através de contacto com as células estaminais mesenquimais, é transplantada para ratinhos immuno-comprometidos (onde as células do sangue foram destruídas por radiação) elas expandem-se e diferenciam-se.
Estes ratinhos têm agora um sistema sanguíneo humano, provando que as células estaminais assim obtidas são funcionais.
Para Sandra Pinho, “estes novos resultados são um primeiro passo importante no estudo da regulação das células estaminais do sangue dentro da medula óssea”.
“Além disso, no futuro, esperamos conseguir em laboratório expandir o número de células estaminais do sangue em quantidades suficientes para ajudar doentes hematológicos que necessitam de transfusões ou transplantes da medula óssea”, sublinha.
Lusa