Margarida Alexandra Moreira da Silva, professora e investigadora da ESEnFC, alerta para a "necessidade de formação especializada para a prática avançada de Enfermagem de Família nos cuidados de saúde primários", denunciando "que há um desfasamento entre as orientações políticas, ou a própria teoria de Enfermagem, e o que acontece na prática clínica".

Na sequência de um estudo de doutoramento que envolveu 871 enfermeiros de 14 agrupamentos de centros de saúde e duas unidades locais de saúde da região Centro, a docente da ESEnfC constatou "que aqueles profissionais atribuem bastante importância a uma Enfermagem centrada no trabalho com as famílias".

A importância do enfermeiro de família está amplamente reconhecida, garante a investigadora, lembrando que desde a Declaração de Munique (Conferência Ministerial da Organização Mundial de Saúde, em 2000) "a figura do enfermeiro de família surge como a de um profissional que, integrado numa equipa multidisciplinar, é responsável pelo contínuo de cuidados a um grupo limitado de famílias, desde a conceção até à morte e nos acontecimentos de vida críticos".

Porém, ressalva a investigadora, a maioria dos enfermeiros que trabalha nos cuidados de saúde primários é licenciada em Enfermagem (habilitada para cuidados gerais), havendo, também, neste domínio de atuação, enfermeiros especialistas com formação avançada em diferentes áreas, tais como Saúde Pública, Saúde Comunitária, Saúde Infantil e Saúde Materna.

Margarida Alexandra Moreira da Silva conclui neste contexto "que há um desfasamento entre as orientações políticas, ou a própria teoria de Enfermagem, e o que acontece na prática clínica", recordando que as competências para o enfermeiro especialista em saúde familiar já estão definidas desde há cinco anos.

"Há cuidados especializados que não estão a ser assegurados por não existirem enfermeiros especialistas em saúde familiar", alerta a investigadora, referindo que o estudo que efetuou permite concluir que "há assimetrias nas diferentes unidades de saúde, sejam unidades de saúde familiar ou unidades de cuidados de saúde personalizados, no que toca à atribuição de recursos físicos e humanos para este novo modelo de cuidados".