A disfunção mandibular é a causa mais comum de dor orofacial de origem não-dentária e os principais sintomas são a dor articular, que pode atingir o ouvido, a limitação na abertura da boca e estalidos na articulação.

A investigação está na reta final e, se os resultados da fase pré-clínica se mantiverem sólidos, a cirurgia em humanos pode acontecer no próximo ano.

O investigador David Ângelo explica que, neste momento, "os doentes com disfunção da articulação temperomandibular severa, em que já há destruição do disco, não têm qualquer tipo de opção terapêutica validada". "O que fazemos, o que as `guidelines` nos estão a sugerir é tirar o disco da articulação. No entanto, os resultados são imprevisíveis e eu digo aos meus doentes que não sei bem o que pode acontecer, que pode ficar bem e haver uma boa adaptação, mas pode degenerar e acabar a ter de pôr uma prótese", adiantou.

O investigador, cirurgião no Centro Hospitalar de Setúbal, lembrou ainda: "quando tiramos o disco e não pomos nada no meio leva a um processo degenerativo grande".

Ovelhas com articulação mandibular parecida com a dos humanos

Esta investigação usou como modelo as Ovelhas Merino, o animal que tem a articulação mandibular mais parecida com a dos humanos, "quer do ponto de vista da anatomia como da biomecânica".

A equipa começou por tirar os discos e ver o que acontecia, tendo concluído pela existência de um processo degenerativo grande. Depois, durante quase três anos, foram desenvolvidos biomateriais com as mesmas características do disco antigo.

Segundo explicou, um biomaterial é nacional e, nos testes `in-vitro`, mostrou "propriedades regenerativas impressionantes". "Acabámos agora de introduzir, pela primeira vez no mundo, os biomateriais no meio da articulação e vamos ver se conseguem em seis meses fazer o papel do disco", disse Davis Ângelo, sublinhando que, "se tudo correr bem," esta alteração "vai ter uma utilidade imensa nos doentes, que não conseguem abrir a boca e isso tem um impacto muito grande na vida deles" .

Segundo explicou, com esta intervenção "há um equilíbrio entre o processo de degradação de material e a regeneração de novas células".

"À medida que se vai integrando, o material vai sendo ocupado por células do próprio setor. No final é suposto não haver material nenhum e há um disco completamente cheio de células do recetor", disse, lembrando que os doentes deixam de ter dores, passa a haver uma mastigação suave e uma mobilidade normal.

De acordo com o cirurgião, há vários tipos de causa para esta disfunção: "pode haver causas genéticas, doenças autoimunes que contribuem para o seu aparecimento, mas a grande parte é por sobrecarga da articulação, ou seja, em pessoas que têm bruxismo ou têm muito stress e estão sempre a ranger os dentes, o que sobrecarrega a articulação tanto ao ponto que o disco não aguenta a e degrada-se. Aí começa a haver artrose da articulação"

Esta investigação na área da medicina regenerativa já recebeu seis prestigiados prémios nacionais e internacionais.

David Ângelo reforça a importância do estudo: "mesmo não sabendo o resultado final, em cada congresso que apresentamos novos resultados somos contactados por especialistas internacionais que ficam impressionados com este estudo e que já têm doentes candidatos para o potencial biodisco".

Em 2015, esta investigação contou com o apoio da Bolsa para Jovens Investigadores em Dor, atribuída pela Fundação Grünenthal a David Ângelo.