Um investigador português criou um gel “inovador” com células estaminais para o tratamento de feridas crónicas, mas para a aplicação desta terapêutica é preciso encontrar células criopreservadas compatíveis com o doente e que possam ser doadas.

A empresa Crioestaminal, que financiou em cerca de 300 mil euros a investigação, apresentou hoje publicamente o que apelida como um “gel revolucionário com células estaminais do cordão umbilical para o tratamento de feridas crónicas”.

Segundo o cientista Lino Ferreira, o gel deverá ser especialmente aplicado em pessoas diabéticas com úlceras nos pés que já não cicatrizam.

“É um gel que contem células estaminais do sangue do cordão umbilical e células derivadas destas células estaminais [endoteliais]” que é aplicado na ferida.

No entanto, o investigador admite que este gel não promove o tratamento, ou cicatrização completa das feridas, apenas “ajuda a cicatrizar”.

A fabricação do gel, quando estiver comercializado, também obedece a regras, a principal das quais é a compatibilidade entre o dador e o doente.

Lino Ferreira explicou que primeiro é preciso encontrar um dador compatível com o doente específico e que, só então, é fabricado o gel com aquelas células, para aquele doente em particular.

A compatibilidade não parece ser problema, já que nestes casos não é preciso haver “compatibilidade completa”, disse o investigador, especificando que “não serão necessárias muitas amostras, nem um leque muito grande de dadores para encontrar essa correspondência”.

Para procurar células estaminais do cordão umbilical compatíveis, à partida terá de ser com recurso a células criopreservadas.

No entanto, as células criopreservadas em bancos privados de células estaminais, como é o caso da Crioestaminal, são apenas para uso do próprio dador ou da família, pelo que um diabético não poderá contar com nenhuma das centenas de células criopreservadas nestes bancos.

Questionado sobre isto, o investigador não especificou qual seria a fonte deste material genético, limitando-se a responder que a procura “seria do ponto de vista alargado, junto de banco público ou privado”.

O investigador diz que antes de dez anos não será possível ter o gel comercializado e não se compromete com datas para início dos ensaios clínicos com pessoas, adiantando apenas que está à procura de um parceiro que financie os ensaios, com um custo inicial estimado em um milhão de euros.

André Gomes, fundador e administrador da Crioestaminal, avança contudo que os ensaios serão lançados até ao final do ano, para estarem já a ser feitos a partir do próximo ano, com um grupo de 20 a 30 pacientes, por um período de dois a três anos.

Quanto ao financiamento, André Gomes garantiu que a Crioestaminal será o principal financiador do projeto e que está agora em negociações para arranjar um parceiro.

10 de setembro de 2012

@Lusa