O prémio vai ser hoje entregue pelas mãos do provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Pedro Santana Lopes, e significa 50 mil euros para a equipa de investigação liderada por Dora Brites, da Faculdade de Farmácia/Instituto de Investigação do Medicamento da Universidade de Lisboa.

Em declarações à agência Lusa, a investigadora começou por explicar que a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa, incluída na mesma gama de doenças que a Alzheimer, da qual pouco se sabe sobre as causas e para qual existe pouca terapêutica eficaz.

“Enquanto no Alzheimer as pessoas têm uma sobrevida prolongada, na ELA a vida depois da detenção e diagnóstico da doença é muito curta, entre três a cinco anos”, apontou Dora Brites, sublinhando que a terapêutica aceite para a ELA apenas prolonga em três meses a vida do doente.

Uma situação “drástica”, apontou a investigadora, já que não há uma terapêutica eficaz, não se conhece a causa da doença e não se consegue, por isso, “ter grandes ofertas” para os doentes.

“O que pretendemos é conhecer um bocadinho melhor as causas da doença, onde é que ela tem origem no sistema nervoso central”, adiantou Dora Brites.

Para isso, explicou, a equipa de vários investigadores, nacionais e estrangeiros, vai trabalhar com várias zonas do sistema nervoso central uma vez que acreditam que há outras células envolvidas para além dos neurónios.

“Essas células, que são muito tóxicas para os neurónios nesta doença, são os astrócitos. Eles são o alvo da nossa investigação, quer no sentido de perceber porque é que eles ficam inoperantes ou, mais do que isso, porque é que eles ficam tóxicos para os neurónios”, revelou.

O trabalho passa por conseguir compreender melhor que tipo de substâncias libertam os astrócitos, já que estas células “libertam pequeninas vesículas com algum conteúdo, que não se sabe ainda bem o que é, mas se pensa que está na origem da propagação da doença e da afeção das células que está à volta”.

“Para comprovar a eficácia da manipulação, vamos usar células dos próprios doentes, que são colhidas da pele, serão modificadas até chegar às células neurais e vamos fazer culturas com essas células (…) para ver se conseguimos travar ou prevenir a progressão da doença”, adiantou Dora Brites.

A investigadora não consegue para já prever se desta investigação sairá ou não uma possível cura para a ELA, mas acredita que poderá ajudar a que a progressão da doença não se faça de forma tão rápida.

“Até penso que em algumas formas poderá ajudar outras doenças, como a Alzheimer”, adiantou.

Este projeto de investigação ganhou a primeira edição do Programa de Investigação Cientifica em Esclerose Lateral Amiotrófica, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), cujo objetivo é promover e dinamizar a investigação científica básica ou clínica e incentivar contribuições significativas no âmbito da ELA.

Desta forma, a SCML atribui 50 mil euros anuais, podendo o apoio ao projeto ser prolongado até quatro anos.

Através deste programa, é também afeto um bolseiro de investigação científica ao projeto, sendo que a respetiva bolsa foi já aprovada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.