30 de maio de 2013 - 09h18
Os internamentos hospitalares por cancro do fígado triplicaram nos últimos anos, aumentando drasticamente os custos com a doença, e anualmente surgem dois mil novos casos, devido à elevada prevalência de hepatite e consumo excessivo de álcool, segundo um especialista.
“Nos últimos 10 anos, o internamento aumentou três vezes e os custos associados nove vezes. É um enorme encargo para o erário público, um valor muito superior ao das doenças pulmonares e cardiovasculares”, disse à Lusa o diretor do Serviço de Gastrenterologia do Hospital de São João, no Porto, a propósito de um Simpósio Internacional sobre Carcinoma Hepatocelular que organiza e que decorre na sexta-feira.
Guilherme Macedo alerta que os números oficiais estão “subestimados”, por se tratar de uma doença silenciosa, mas adianta que as estimativas apontam para a existência de 250 mil pessoas infetadas com hepatite B e C, das quais 10% a 20% poderão ter cirrose, e destas 5% correm risco de desenvolver cancro, o que dá cerca de dois mil novos casos por ano.
Tendo presente esta realidade, o especialista alerta para a necessidade de medidas de prevenção para inverter esta tendência crescente e reduzir não só o número de cancros de fígado, como de cirroses hepáticas, principal causa deste tipo de carcinomas, e assim conseguir poupanças em economia.
Contribui para o aumento do número de cancros os casos de hepatite não diagnosticada, que, segundo Guilherme Macedo, são muito elevados e facilmente seriam detetados com uma simples análise ao sangue.
“As infeções que se conhecem estão controladas, mas não estão as pessoas que estão infetadas e não o sabem. A infeção por hepatite é altamente prevalente na população”, afirmou, acrescentando que o cancro no fígado está a “subir no ranking” em Portugal, sendo aproximadamente o 7º tipo de cancro mais comum.
Para Guilherme Macedo, o outro problema grave é o excessivo consumo de álcool em Portugal, onde ainda é a principal causa de cirrose hepática, e as “insuficientes restrições” no acesso a bebidas alcoólicas por parte dos jovens.
“Finalmente a tutela introduziu fatores restritivos, mas não o suficiente. Não parece razoável que jovens adolescentes tenham acesso livre ao álcool. A tutela tem que ser sensível pelo menos aos problemas económicos”, criticou.
Na opinião do especialista deveria haver uma “limitação indiscutível” do acesso a bebidas com qualquer teor alcoólico por adolescentes com menos de 18 anos.
“É criminoso que se continue a permitir e que não haja um mecanismo punitivo”, considerou, afirmando ser uma “circunstância frequente” aparecerem adolescentes nos hospitais com hepatites alcoólicas graves.
Para Guilherme Macedo “não é aceitável” que se imponha o limite de 18 anos para a condução e para o ato eleitoral e que para o álcool não.
Além de uma lei mais restritiva, o responsável considera fundamental a prevenção, quer em termos de mudança de padrão do consumo de álcool, quer em termos de verificação da existência ou não de uma infeção por hepatite, especialmente a C, já que a B está contemplada no programa de vacinação.
É este aspeto da prevenção que vai estar subjacente a todo o simpósio, cujo subtítulo é “atuar hoje para salvar a vida”.
O encontro insere-se numa semana dedicada em todo o mundo ao problema das doenças digestivas e em particular ao carcinoma.
“Aproveitamos o aumento da atenção mundial sobre o problema para realizar o simpósio, com a presença do responsável mundial do programa, para chamar atenção da comunidade médica e da população em geral, para este problema enorme que é o cancro do fígado”, explicou.
Lusa