O Infarmed notou um aumento nas vendas de medicamentos para a acidez gástrica não sujeitos a receita médica em 2016, ano em que foram vendidas 138 mil embalagens.

O Infarmed vai investigar as causas deste aumento e lança, nesta quarta-feira, uma campanha para alertar os utentes para os efeitos adversos da utilização continuada de medicamentos com omeprazol para a acidez do estômago.

Nos últimos dois anos as vendas sem receita médica subiram 62%. Em entrevista à TSF, o presidente do Infarmed, Henrique Luz Rodrigues, dá conta que entre 2010 e 2014 os números das vendas diminuíram para metade, mas em 2016 voltaram a subir: de 85 mil embalagens vendidas em 2015 passou-se para 138 mil.

O Infarmed diz que o que se vende nas farmácias e parafarmácias não anda longe do que acontece noutros países, pelo que os números ainda não são preocupantes, mas teme que os medicamentos estejam a ser mal usados por falta de conhecimentos de muitos doentes. "Provavelmente será o efeito do marketing farmacêutico", disse à TSF.

Riscos para a saúde

As consequências da toma continuada podem ser o aumento do osteoporose, o risco de fraturas ósseas, o agravamento de infeções gastrointestinais e a camuflagem de outras doenças potencialmente graves.

Segundo Henrique Luz Rodrigues, esta é uma “preocupação mundial”. “As pessoas estão a automedicar-se com um medicamento que tem efeitos adversos importantes a prazo”, disse numa entrevista à Lusa em janeiro.

Para o presidente do Infarmed, a solução não passa tanto pela obrigatoriedade de prescrição médica, mas sim no conhecimento que os doentes devem ter sobre este fármaco e dos riscos que correm ao tomá-lo por iniciativa própria. “Uma das preocupações do Infarmed é fazer essa divulgação”, referiu, revelando que este organismo vai avançar com uma campanha de sensibilização, cujo principal objetivo é “melhorar a automedicação”.

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Em 2014, um estudo publicado na revista científica da Associação de Médicos Americanos (JAMA) atribuiu à ingestão prolongada deste fármaco e de outros semelhantes uma carência da vitamina B12.

A investigação refere que as pessoas que tomaram diariamente um medicamento do grupo do omeprazol durante dois ou mais anos tinham 65 por cento mais de probabilidades de ter níveis baixos de vitamina B12, que tem um papel importante na formação de novas células, do que os que não ingeriram o fármaco.

Já em 2016, um novo estudo publicado na edição online da JAMA Neurology confirmou a associação destes fármacos e um maior risco de demência em pacientes idosos. “Infelizmente, o excesso de prescrição” destes fármacos “é relatado com frequência”, disse uma coautora do estudo, Britta Haenisch, do Centro Alemão de Doenças Neurodegenerativas.