“Os novos monitores [que medem os sinais vitais do doente] que começaram esta semana a ser colocados nas ambulâncias são hospitalares, em vez de serem pré-hospitalares [adequados a viaturas de emergência]”, denunciou à Lusa Ricardo Rocha, do Sindicato dos Técnicos de Ambulância de Emergência (STAE).

Os equipamentos hospitalares são para os hospitais, “têm que ser fixos à parede, não podem sofrer vibrações, não podem apanhar pó ou água, o que é incompatível com a atividade de uma ambulância de emergência. Isto está escrito no manual de instruções”, acrescentou.

“Neste momento, as nossas ambulâncias com técnicos são cerca de 70, não tem ECG [eletrocardiograma] ou monitor a funcionar e não têm impressora. Um dos monitores, passados dois dias, já estava avariado”, contou.

Segundo Ricardo Rocha, os monitores de sinais vitais, fundamentais para a sobrevivência de vítimas de enfarte, estavam para ser trocados desde julho do ano passado, porque os que receberam na altura eram desadequados.

Monitores desadequados pela segunda vez

“Há cerca de dois anos o Conselho Diretivo da altura disse que os monitores não eram adequados. Entretanto terminou o mandato. A nova presidente esteve em transição e não resolveu nada. Entretanto este Conselho Diretivo assumiu funções. Avisámos o presidente de que faltavam monitores”, conta Ricardo Rocha.

Na sequência deste alerta, o presidente terá dito, em julho de 2014, que iria “mandar para trás os monitores e mandar vir outros adequados”, disse à Lusa o representante sindical, acrescentando que, mais de um ano depois, estão a entrar agora os monitores, que continuam a ser desadequados, o que leva o sindicato a questionar se serão os mesmos e, portanto, o presidente não fez nada, ou são outros, mas vêm na mesma errados.

A ausência de monitores de sinais vitais pré-hospitalares impede os técnicos de porem em prática o protocolo estabelecido para doentes com dor torácica e sintomas de enfarte, tendo que – nessas situações – pedir um carro médico (VMER), disse.

“Nós não temos maneira de perceber se é enfarte ou não. Ligamos para o CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes] e pedimos uma VMER. Se não há VMER, o doente vai para a urgência básica, onde faz o ECG. Caso se detete o enfarte o doente ainda tem que ser transportado para uma unidade que lhe possa fazer a angioplastia primária”, afirmou, sublinhando que é muito tempo que se perde, para uma doença em que um minuto pode fazer a diferença entre a vida e a morte.

Contactado pela Lusa, o INEM afirma que os monitores novos com que está a equipar as ambulâncias foram encomendados e com especificações feitas pelo anterior Conselho Diretivo do INEM.

O concurso iniciou-se em 2013 e foi “elaborado segundo critérios estipulados por administrações anteriores”, com quem o STAE “tinha contactos muito próximos”, tendo-lhes sido dado a conhecer todas as especificidades do material, acrescenta.

O instituto sublinha ainda que, mesmo que o atual Conselho Diretivo tivesse querido anular o concurso, não lhe era já possível fazê-lo quando entrou em funções.

“No entanto, o INEM reafirma a capacidade e a qualidade destes monitores para realizar ECG de 12 derivações de eletrocardiograma e transmissão de dados, que não é muito habitual executar em ambiente exterior, e que vão permitir um 'upgrade' no atendimento e no socorro em emergência médica à população”.

O INEM salvaguarda que “são muito poucas as escolhas do mercado de monitores (exclusivamente monitores) com esta opção” e que “estes monitores vão permitir implementar o protocolo de dor torácica”.

Contudo, o instituto não respondeu se os monitores são hospitalares, não podendo estar sujeitos a vibrações e a outras condicionantes próprias de trabalho em viatura de emergência, como acusa o STAE.