27 de maio de 2013 - 10h04
Investigadores da Universidade de Coimbra (UC) identificaram, pela primeira vez, “os perfis metabólicos da população portuguesa com implicações nas doenças neuropsiquiátricas”, incluindo as toxicodependências, anunciou hoje a instituição.
Os resultados da investigação, além de permitirem “melhorar a segurança dos medicamentos”, assumem-se como uma “ferramenta essencial para a prática clínica”, pois podem “evitar o surgimento de efeitos patológicos”, a partir da prescrição da medicação e dose mais adequadas, salienta Manuela Grazina, que liderou a equipa multidisciplinar que desenvolveu o estudo e é integrada por especialistas de Coimbra e de Badajoz (Espanha).
“Mais de um milhão de portugueses” poderá “beneficiar deste conhecimento”, admite a investigadora e docente da Faculdade de Medicina da UC, que também é coordenadora do Laboratório de Bioquímica Genética do Centro de Neurociências e Biologia Celular.
A investigação, que vai ser publicada na revista “Personalized Medicine”, incidiu na identificação das “alterações genéticas, características dos perfis de metabolização do gene CYP2D6, que codifica uma das principais enzimas envolvidas no metabolismo dos fármacos utilizados para tratar doenças neuropsiquiátricas”, como por exemplo a depressão e as toxicodependências.
Genética define eficácia do medicamento
Partindo das múltiplas formas do CYP2D6, o estudo identificou os “quatro principais perfis de metabolização [do gene] – ultrarrápidos, muitos lentos, extensivos e intermédios” –, concluindo, designadamente, que os dois primeiros são altamente problemáticos, porque “a eficácia do fármaco administrado depende da forma como o organismo o processa”, salienta Manuela Grazina.
“Se a reação é muito lenta, o medicamento acumula-se no organismo e pode gerar efeitos indesejáveis”, mas se é muito rápida “o fármaco é degradado, influenciando igualmente a resposta terapêutica”, afirma a investigadora, explicitando: “As características genéticas de cada indivíduo decidem a eficácia dos fármacos consumidos e o aparecimento de efeitos tóxicos”.
Aprovada pela Comissão de Ética, a pesquisa, que envolveu 300 voluntários adultos portugueses, de várias regiões, permite concluir que mais de 665 mil portugueses possuem o perfil de metabolizadores lentos e cerca de 496 mil ultrarrápidos, de acordo com a extrapolação para a população portuguesa, efetuada em função dos Censos 2011.
Atendendo à importância deste gene – que “entra na metabolização de 25% dos fármacos regularmente utilizados na prática clínica” (entre os quais antidepressivos, analgésicos e opioides) – e ao impacto social e económico causado por doenças neuropsiquiátricas (como a depressão) ou pela dor crónica, “é crucial” investir neste tipo de estudos para promover a “prevenção a longo prazo”, adverte Manuela Grazina.
A pesquisa integra-se no projeto internacional do Consortium of the Ibero-American Network of Pharmacogenomics and Pharmacogentics (RIBEF), no âmbito do qual também foram traçados os perfis das populações do Brasil, de Espanha e de Cuba, entre outros países.
A equipa de especialistas vai continuar a investigar este e outros genes, em toxicodependentes, em colaboração com a Unidade de Desabituação do Centro de Coimbra, para compreender as diferenças na eficácia da desintoxicação, com base nas variações genéticas e metabólicas.

SAPO Saúde com Lusa