Segundo relatou o bastonário da Ordem num encontro com jornalistas para apresentar o XVII Congresso Nacional de Medicina, o médico estava há alguns anos numa situação contratual indefinida, tendo acabado por ser dispensado.

Além de ser o único radiologista de intervenção daquele hospital, o clínico que agora emigrou para o Reino Unido fazia cerca de 300 procedimentos por ano e estava a dar formação a um colega, que acabou por ver a sua especialização interrompida.

O bastonário José Manuel Silva recordou que a radiologia de intervenção é essencial no tratamento de doentes com cancro, nomeadamente de tumores com metástases, além de servir também para aplicação de próteses.

Para o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), a situação que se vive no serviço de imagiologia do Amadora-Sintra “configura crime”.

No seu site, o SIM transcreve a denúncia do médico radiologista de intervenção que, “cansado de remar contra a maré, emigrou para Inglaterra onde o seu trabalho é valorizado, acarinhado e remunerado”.

Nessa denúncia, o médico refere que, no serviço de imagiologia/radiologia, “os equipamentos são os mesmos de há quase 15 anos” e “para quase todas as modalidades imagiológicas”.

“Existe apenas um aparelho de TC [tomografia computorizada] que apenas tem capacidade de quatro cortes (na atualidade, mesmo hospitais como o de Leiria ou o de Castelo Branco que servem menor número populacional, têm [equipamento com capacidade para] 16 ou 64 cortes”, lê-se na missiva do clínico.

Esta situação foi também frisada pelo bastonário, ao afirmar que “a tecnologia de radiologia está completamente obsoleta”.

Na denúncia enviada ao Sindicato, o médico indica que “este equipamento de TC trabalha praticamente 24h/24h em sete dias por semana, pois para o corpo de gestores do hospital este aparelho e os doentes são algo metaforicamente semelhante a sardinhas a entrar em lata”.

“Não admira assim que ele só pare quando está avariado e, como qualquer aparelho em reta final de ‘vida’, tem avariado uma vez de mês a mês até ao dia da ‘sepsis’ final”.

A Ordem dos Médicos critica ainda a ausência de radiologistas durante a noite no hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), indicando que os doentes são encaminhados naquele período para a unidade privada Hospital da Luz.

“Não compreendo como uma urgência daquelas funciona sem radiologistas”, disse o bastonário, admitindo que numa próxima visita do colégio de especialidade da Ordem o hospital possa “perder idoneidade” nesta área.

Segundo o que consta no site do Sindicato Independente dos Médicos, o serviço é acreditado pela norma ISO-9001, que implica o cumprimento de uma série de normas.

“A acreditação deveria ser revalidada durante o passado mês de outubro, mas o hospital pediu o adiamento da mesma até abril (6 meses). Entre as normas pode-se ler que o serviço de radiologia deverá ter uma resposta interna de radiologia de intervenção ao longo das 24 horas (algo que já não acontece por decisão da gestão ao proibir procedimentos depois das 20:00) e que devem estar definidas vias de referenciação para casos excecionais quando os procedimentos não puderem ser realizados (…). Para além desta, muitas outras normas estão em incumprimento, nas diversas modalidades para além da radiologia de intervenção”, refere o médico do hospital na exposição ao SIM.