O Projeto Pimpolho decorre desde maio de 2014 e nestes dois primeiros dois anos abrangeu apenas as crianças do concelho de Braga, mas vai agora estender-se também a Amares, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Vila Verde e Terras de Bouro, ao abrigo de protocolos que hoje serão assinados com as respetivas câmaras municipais.

Com a adesão de mais cinco concelhos, o Hospital de Braga passará, por ano, a rastrear cerca de 1600 crianças. Trata-se de um rastreio oftalmológico realizado a crianças entre os 3 e aos 4 anos de idade, para despistar a ambliopia, “uma doença silenciosa e de difícil deteção pela família”.

O projeto iniciou no ano de 2014, em parceria com a Câmara Municipal de Braga, e por ele já passaram perto de 2 mil crianças provenientes de mais de 80 escolas daquele concelho. “Deste universo rastreado, foi possível concluir que, em cada 20 crianças, uma tem ambliopia”, refere um comunicado do Hospital de Braga.

Doença exclusiva da infância que pode cegar

Explica que se trata de uma doença exclusiva da infância e que, se não for tratada, “é irreversível, podendo mesmo levar à cegueira”.

“Mais de 90 por cento das crianças diagnosticadas com ambliopias nunca tinham dado qualquer sinal que algo poderia não estar bem com a sua visão. Mesmo as crianças que têm ambliopia nos dois olhos - o que é mais raro - estão perfeitamente adaptadas a esse tipo de visão e, como não têm grandes exigências visuais, ninguém se apercebe. A criança vai fazendo as suas tarefas básicas adaptada à visão que tem e que considera normal”, explica Sandra Guimarães, oftalmologista pediátrica e mentora do projeto.

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O “Pimpolho” permitiu, ainda, detetar outras doenças oftalmológicas, como estrabismo, astigmatismo, hipermetropia, entre outras alterações. Todas as situações detetadas são encaminhadas com uma carta aos encarregados de educação, aconselhando uma consulta de oftalmologia.

“Este rastreio permite à criança uma deslocação ao hospital em ambiente descontraído, em formato de ‘passeio escolar’, evitando o acompanhamento dos pais, sem perdas de tempo de trabalho, diminuindo, assim, custos relevantes para as famílias e para a sociedade”, sublinha o comunicado do hospital.

Citado no mesmo comunicado, o presidente da câmara de Braga, Ricardo Rio, refere que este projeto “é o exemplo de como as autarquias devem assumir responsabilidades para além do que consta das suas habituais tarefas”.

“Este projeto tem vindo a detetar precocemente uma patologia que pode afetar, e muito seriamente, o futuro dos nossos jovens, pelo que tem tido excelentes resultados”, refere o autarca.

As autarquias envolvidas no projeto assumem o transporte entre a escola e o hospital, assim como a logística de agendamento com os estabelecimentos de ensino.

Num inquérito realizado a cerca de 400 pais, o Hospital de Braga concluiu que apenas 23% sabia da existência de ambliopia, passando este valor para 74,5% após a implementação do projeto Pimpolho.

A maioria dos pais também “nunca desconfiou” que houvesse alguma alteração na visão dos filhos.

“Temos, constantemente, pais a assumirem um sentimento muito pesado de culpa quando percebem que o filho vê, por exemplo, apenas 10% ou 20% de um olho e nunca se aperceberam”, refere Sandra Guimarães.

O Hospital de Braga vinca que a articulação do exame oftalmológico realizado pelos cuidados de saúde primários desde o nascimento com o rastreio efetuado uma única vez aos 3 ou 4 anos de idade é aquilo que a literatura científica mais recente preconiza para deteção do “olho preguiçoso”.