“A Ordem pretende que nos setores em que seja possível reduzir os custos sem pôr em causa a qualidade que isso seja efetivado. Um dos setores tem a ver com o reprocessamento de dispositivos médicos. É possível alargar o âmbito do reprocessamento, reduzindo os custos da saúde e sem pôr em causa a qualidade”, afirmou o bastonário dos Médicos à agência Lusa.

A Ordem vai realizar na quinta-feira um debate sobre a reutilização dos dispositivos médicos (como máquinas de sutura, tesouras de corte ou dispositivos cardíacos) considerando que esta prática em Portugal ainda é “muito restrita e está condicionada por um jogo complexo de interesses”.

“Há ainda um grande receio e uma falta de debate, condicionado por interesses, na questão do reprocessamento”, referiu o bastonário José Manuel Silva.

Em maio de 2013, o Ministério da Saúde publicou em Diário da República um despacho sobre os dispositivos médicos de uso único reprocessados, com o objetivo de “estabelecer condições adequadas de segurança que permitam alcançar poupanças indispensáveis”.

Na altura, a Associação dos Enfermeiros de Sala de Operações em Portugal contestou este reprocessamento de dispositivos de dose única, considerando-o um “atentado à saúde pública”.

O bastonário salientou que os médicos estão convictos de “que é possível alargar o reprocessamento, mantendo ou até melhorando a qualidade”, com o argumento de que há razões técnicas e científicas para afirmar a segurança do processo.

“Nós atualmente transplantamos órgãos, não há nenhuma razão técnica que possa limitar, em circunstâncias bem definidas, a reutilização/reprocessamento de dispositivos médicos”, declarou José Manuel Silva.

O reprocessamento pode até trazer mais segurança, insiste o bastonário, dado que tem uma “garantia de funcionamento exatamente pelo facto de [o dispositivo] já ter sido usado e demonstrado que não falha”.

Para a Ordem, a decisão de utilização única de um dispositivo, que geralmente cabe à própria indústria, “visa mais os interesses de quem o produz do que motivações técnicas”.

Depois de uma utilização dos dispositivos, eles são enviados para reprocessamento numa fábrica que tem de estar certificada. São retirados todos os contaminantes, depois os dispositivos são limpos, esterilizados, selados e passíveis de rastreabilidade.

Esta prática é já seguida, por exemplo, no hospital de São João, no Porto.

O reprocessamento de dispositivos médicos e cirúrgicos de uso único é corrente noutros países, como o caso dos Estados Unidos, onde 60% dos seus cinco mil hospitais já recorrem a este método.