16 de julho de 2014 - 14h01
O presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar de São João (CHSJ), no Porto, negou hoje que a instituição tenha sido privilegiada e garantiu que outros hospitais de semelhante dimensão gastariam mais 138 milhões de euros para atingir a sua produção.
António Ferreira, que falava na Comissão Parlamentar de Saúde, no âmbito da demissão de 66 diretores no Hospital de São João e a posterior decisão do Governo de autorizar a contratação de mais profissionais de saúde, subscreveu o mérito dos resultados da instituição recordado por alguns deputados, os quais atribuiu a quem trabalha nesta unidade.
O administrador negou, contudo, quaisquer privilégios e disse mesmo que “o contrato-programa com o CHSJ não tem nada a ver com os do resto do país” com semelhantes dimensões. “A diferença do financiamento é abissal”, disse.
Segundo António Ferreira, mesmo com menos dinheiro, o Centro Hospitalar “tem cumprido a sua missão com níveis de eficiência incomparáveis com hospitais semelhantes no resto do país”.
“Para tratar os doentes que o São João trata, a preços que outros praticam, o hospital teria de gastar mais 81,4 milhões de euros”, garantiu, acrescentado que, por seu lado, “os outros hospitais teriam de gastar mais 138 milhões de euros para tratar os doentes que o São João trata”.
Amaro Ferreira, vogal do conselho de administração do CHSJ com o pelouro das finanças, disse aos deputados da Comissão Parlamentar de Saúde que se os outro cinco hospitais, que pertencem ao mesmo grupo do São João, tratassem os doentes ao mesmo custo, o Estado teria poupado 185 milhões de euros em 2013.
António Ferreira foi questionado pelos deputados sobre as razões que estiveram na origem da demissão em bloco dos dirigentes do São João, com o PSD, através do deputado Miguel Santos, a elogiar o desempenho da instituição, com destaque para a diminuição das dívidas: de 149 milhões de euros em 2011 para 77 milhões em 2014.
O administrador disse que, quando a demissão dos dirigentes se deu, existiam duas questões: conjunturais (necessidades do momento) e estruturais.
Ao nível das situações conjunturais com que as direções do São João se debatiam, uma delas relacionava-se com a carência de profissionais, nomeadamente assistentes operacionais, mas “fundamentalmente em algumas áreas de especialidades que, pelo tipo de diferenciação que temos, era fundamental garantir”.

Margarida Tavares, igualmente da administração do CHSJ, pormenorizou estes valores, indicando que dos 21 médicos solicitados desde outubro de 2013, já tiveram autorização para 14, faltando ainda sete.
As especialidades mais carentes de pessoal eram a urgência e as áreas de pediatria, medicina interna e hematologia clínica.
Na altura da demissão dos dirigentes do São João, estava em vias de assinatura o contrato-programa, os planos estratégicos e de negócios e a questão do encerramento da urgência básica de Valongo.
A situação estrutural apontada por António Ferreira prendia-se com “o conceito de autonomia de gestão”.
O administrador criticou as limitações na gestão de uma instituição como o CHSJ, embora seja uma Entidade Pública Empresarial (EPE).
Para exemplificar estas limitações, António Ferreira afirmou: “Podemos estar a pedir um médico para a urgência e ter acesso a um cirurgião, porque assim os concursos determinam”, disse.
Sobre a situação atual, que terá levado as chefias a recuarem na intenção de se demitirem, o administrador disse que está assinado o contrato-programa, no valor proposto pelo CHSJ no início das negociações, está em curso a contratação de médicos e assistentes operacionais, foi dado andamento ao plano estratégico e está em discussão o plano de negócios do Centro Hospitalar.
Em relação à questão estrutural – modificações legislativas relativo ao modelo de autonomia de gestão –, António Ferreira disse saber que estas são motivo de debate no Ministério da Saúde, sem que do mesmo saiba mais.
O administrador reiterou a intenção de encerrar o Serviço de Urgência Básica de Valongo, que pertence ao CHSJ e motivou protestos e hoje críticas de deputados da oposição, nomeadamente de Paula Santos (PCP), lembrando que ali será instalado um serviço público de hemodiálise.
“Eu sei que é difícil para um hospital público confrontar-se com os interesses privados nesta área e que pode pôr em risco um setor que tem capturado o Ministério da Saúde”, disse.
Por Lusa