Eurico Castro Alves, presidente do INFARMED (MIGUEL A. LOPES/LUSA)

Eurico Castro Alves, em entrevista no telejornal da RTP hoje à noite, adiantou que os tratamentos oferecidos por esta farmacêutica começaram hoje a ser pedidos pelos hospitais, depois de o Infarmed (autoridade para a área dos medicamentos) ter “demorado alguns dias” a definir “critérios muito rigorosos” para “garantir que todos os doentes tivessem acesso por igual, justo e equitativo” aos tratamentos.

“Definido esse critério, hoje mesmo, os hospitais começaram a pedir os tratamentos à Gilead e creio que alguns já terão sido entregues, os 100 gratuitos”, declarou.

O presidente do Infarmed adiantou que há mais 200 tratamentos para a Hepatite C oferecidos pela farmacêutica Abbvie, “em sede de ensaios clínicos de um medicamento perfeitamente equivalente”, e cerca de 60, também oferecidos, pela farmacêutica Bristol-Meyrs Squibb.

Eurico Castro Alves admitiu que as farmacêuticas “têm a vida dos doentes nas mãos” e deixou um apelo público para que essas empresas aceitem “o preço que o Estado português pode pagar” pelos tratamentos inovadores para a Hepatite C.

“As farmacêuticas têm nas mãos delas a vida dos nossos doentes. Eu percebo que são empresas que têm expetativas, que nós respeitamos. Temos que encontrar um equilíbrio entre aquilo que é possível o Estado português pagar para tratar todos os seus doentes e as suas legítimas expetativas”, disse.

Eurico Castro Alves declarou ainda que o preço justo “tem que ser encontrado urgentemente” e que se dependesse apenas de si ou do Ministério da Saúde isso já teria acontecido.

“Ninguém tem mais pressa do que o Governo e aqueles que estão a negociar. Temos tanta pressa como os doentes. Estamos solidários com eles, estamos na mesma luta”, declarou.

Sublinhando que está em causa “muito dinheiro”, o presidente do Infarmed deu como exemplo os tratamentos realizados pelo Hospital de São João a quatro doentes, que tiveram um custo de aproximadamente 100 mil euros por doente e por tratamento completo.

Eurico Castro Alves referiu que um “inquérito rigoroso” realizado em maio nos hospitais permitiu identificar 13.015 doentes a precisar de tratamento.

“Multipliquemos 13.015 doentes, que são aqueles que precisam de tratamento, por 100 mil euros cada um. Estamos a falar de muito dinheiro. O que é preciso é arranjar maneira de poder pagar o preço justo”, disse, já depois de ter afirmado que “não podem morrer doentes por falta de tratamento”.

Sobre o caso da doente que morreu no Hospital de Santa Maria, alegadamente por falta de tratamento com o medicamento inovador que está a ser negociado com a Gilead, o presidente do Infarmed disse não ter “conhecimento oficial” sobre se foi dada autorização para o tratamento para esta doente, frisando que as autorizações são concedidas num prazo de 13 dias, sempre que sejam cumpridos os critérios, mas sem que se conheça a identidade dos pacientes.

Eurico Castro Alves disse que “falta esclarecer se foi por falta de tratamento” que morreu a paciente e que “o mais prudente” é esperar pelo resultados dos inquéritos que estão a ser feitos.

A farmacêutica Gilead, detentora do medicamento inovador para a hepatite C, disse hoje que a doente que morreu recentemente vítima da doença podia ter tido acesso ao fármaco sem qualquer custo para o Estado.

A farmacêutica disse que o Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental enviou à Gilead, a 04 de novembro do ano passado, pedido de acesso ao medicamento sem custos, embora sem enquadramento legal para o fornecimento naquelas condições.

A Gilead garantiu que nunca recebeu nota de encomenda do fármaco, mas que o disponibilizou para a doente.