26 de maio de 2014 - 16h31
O vice-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) afirmou hoje que os tempos de espera para uma consulta com o médico de família “ainda são muito prolongados”, considerando que, nalguns casos, são mesmo “inadmissíveis”.
Rui Nogueira comentava à agência Lusa um inquérito divulgado hoje pela Deco, segundo o qual três em cada 10 portugueses esperam mais de um mês pela consulta com o médico de família, enquanto em Espanha e Itália os doentes conseguem consulta numa semana.
O estudo da associação de defesa do consumidor, que foi realizado no final do ano passado e inquiriu 3.556 pessoas sobre os cuidados de saúde primários, refere também que o nível de satisfação dos consumidores com os centros de saúde tem vindo a aumentar e que o número de utentes sem médico de família “teima em não descer”.
Comentando estes dados, Rui Nogueira disse ficar “satisfeito” com o facto de “os doentes gostarem mais dos seus médicos de famílias”, mas “preocupado” com os restantes resultados do estudo.
“Os tempos de espera são ainda muito prolongados, são tempos de espera muitas vezes inadmissíveis em certos casos e situações", sublinhou.
Rui Nogueira observou que este estudo foi realizado em outubro e que, desde essa altura, a situação piorou devido a algumas medidas do Ministério da Saúde.
“Acredito que nesta altura a situação seja ainda pior, o que nos deixa ainda mais preocupados”, lamentou.
O clínico explicou que a situação é mais grave, porque se está a atravessar uma “fase bastante difícil de falta de médicos de família”.
“Se as dificuldades fossem apenas a falta de médicos de família nós ainda conseguíamos superar, só que na verdade o Ministério da Saúde agrava ainda mais a situação com medidas avulsas, extemporâneas que nos deixam surpreendidos”, frisou.
Deu como exemplo uma portaria publicada na sexta-feira que “remete para os centros de saúde e para os médicos de família a obrigação de verem trabalhadores de pequenas e trabalhadores independentes para fazerem exames médicos do trabalho”.
“É uma atividade que extravasa aquilo que são as competências de um médico de família e invade as competências de outros colegas, médicos do trabalho, com a especialidade de Medicina do Trabalho, e até os médicos de saúde pública”, salientou.
Para Rui Nogueira, é uma situação “absolutamente absurda nesta altura” e que deixou os médicos de família “bastante preocupados”, tanto mais” que nem sequer foram ouvidos.

“São situações que nos apanham de surpresa (…) com conceitos que não conhecemos. Enfim, ficamos tristes com isso”, sustentou.
Apontou ainda outras medidas que contribuem para a situação atual dos cuidados de saúde primários, como o atraso na contratação de médicos que se aposentaram, mas que estão disponíveis para continuar a trabalhar, e a abertura de concursos para médicos de família.
Mesmo voluntariando-se para “trabalhar nestas condições” o Governo “leva meses até fazer essa contratação, o que é inadmissível e incompreensível”.
Por outro lado, o Governo “abriu um concurso para 200 médicos de família que não existem e não abre um concurso para 187 que terminaram o internato médico em 30 de abril”.
“Temos médicos de família que não têm doentes e temos doentes que não têm médico de família. Assim, a situação agrava-se cada vez mais”, lamentou.
Por Lusa