“Conseguimos perceber que o cérebro deste tipo de animais tem uma forma muito semelhante àquela que os répteis têm. Também percebemos que a postura da cabeça era inclinada e não horizontal, como se tinha pensado”, afirmou à agência Lusa Ricardo Araújo, paleontólogo do Instituto Superior Técnico, que liderou a investigação.

Essa conclusão foi alcançada com a técnica de microtomografia de raios-X, com recurso a radiação de sincrotrão, no laboratório European Synchrotron Radiation Facility, localizado na cidade francesa de Grenoble.

A tecnologia permitiu compreender detalhes anatómicos que nunca tinham sido estudados, como artérias e veias. “Com técnicas tradicionais, para percebermos esses detalhes teríamos de destruir o crânio”, explicou, adiantando que a equipa fez um molde tridimensional dos fósseis estudados.

Os ‘gorgonopsianos’ viveram no período do Pérmico, há mais de 250 milhões de anos, e pertenciam a um grupo diferente dos répteis. A equipa de investigadores demonstrou que, embora os ‘gorgonopsianos’ fossem mais próximos dos mamíferos do que dos repteis em termos evolutivos, o seu um cérebro era mais semelhante ao dos repteis.

O néocortex - parte do cérebro associada à cognição - ainda não tinha sido desenvolvida nos ‘gorgonopsianos’. Por outro lado, o crânio dos ‘gorgonopsianos’ “sofreu transformações anatómicas radicais, com fusões, separações e supressões de diversos ossos”, mostrando mais semelhanças ao crânio dos mamíferos, explicou o cientista.

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O estudo é ainda assinado pelo português Rui Martins, pelo francês Vincent Fernandez, pelo norte-americano Michael Polcyn e pelo alemão Jörg Fröbish.

Os ‘gorgonopsianos’ surgiram muitos milhões de anos antes dos dinossauros, e extinguiram-se na transição para o Triásico.

Esses fósseis constituem achados raros encontrados na África do Sul, Rússia, Moçambique e Tanzânia e são considerados muito relevantes para estudar a evolução dos mamíferos e, em consequência, dos seres humanos.