Depois de um primeiro balanço relativo aos turnos da noite, durante os quais apenas foram prestados os serviços mínimos, nos primeiros turnos da manhã os níveis de adesão à greve andaram entre os 80% e os 90%, tendo em alguns casos chegado a 100%, disse à Lusa Luís Pesca, dirigente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FP).

Frente à pouco movimentada porta de entrada das consultas externas do Hospital de São José, Luís Pesca fez um balanço da greve de hoje e avançou que uma nova greve está já prevista para os meses de novembro e dezembro.

“A partir de 1 novembro nós metemos um pré-aviso de greve ao trabalho prestado para além do período normal de trabalho, ou seja, todo aquele trabalho que é prestado para além do período normal obrigatório de trabalho. Os trabalhadores irão fazer greve até 31 de dezembro e vamos provar que existem trabalhadores a fazer mais do que um turno e que existe falta de pessoal”, afirmou.

Segundo as contas do sindicato, para fazer face às necessidades dos serviços de saúde seria necessário contratar cerca de seis mil funcionários.

Ministério socorre-se do centro de emprego nestes dias

Na opinião de Luís Pesca, o problema, e a dificuldade em aferir números concretos, é que “o Ministério da Saúde consegue mascarar estes números indo chamar aos centros de emprego os trabalhadores em contrato de emprego e inserção social”.

“Trabalhadores que não são trabalhadores, são desempregados, que são chamados a prestar funções no Serviço Nacional de Saúde, sem nenhuma preparação, sem formação profissional, só podem estar um ano e ao fim de um ano vão-se embora e vem outro”, acusou.

Segundo dados do sindicato, naquela unidade de saúde estavam previstas 300 consultas, mas ”nem 10% estão a acontecer”.

Na sala de espera deste serviço, havia duas funcionárias no atendimento, que iam dando vazão aos utentes. Apesar de cheia a sala, a confusão ou sobrelotação não eram significativamente notórias.

De acordo com fonte hospitalar, foram apenas algumas as consultas que não se realizaram, tendo sido a área das análises a mais afetada, sem que nenhuma se tenha realizado até ao final da manhã.

Sobre os motivos da greve, Luís Pesca aponta a existência de trabalhadores a prestar 16 horas de trabalho diário, com 40, 50 ou 60 dias de trabalho para compensar, o bloqueio na negociação das carreiras específicas da saúde e a falta de abertura do ministro da Saúde, que “nunca recebeu o sindicato”.

Além disso, os trabalhadores lutam pela reposição das 35 horas semanais, por “horários de trabalho justo, em que o trabalho prestado a mais deve ser pago como horas extraordinárias, mesmo nos valores insignificantes que hoje está a ser pago, derivado da política da troika”.

“No Serviço Nacional de Saúde ninguém paga, fica para compensar. Estas horas a mais são englobadas num banco de horas ilegal: a nível da contratação coletiva não existe nenhum instrumento que contemple um banco de horas”, denunciou.

A greve começou às 00:00 e termina às 24:00 de hoje.