O sindicalista frisou que esta adesão “evidencia bem o enorme descontentamento” dos enfermeiros com o Governo e o ministério da Saúde face ao facto de este ainda não ter apresentado uma contraproposta de revisão salarial para estes profissionais, ao contrário do que aconteceu com outros trabalhadores.

Segundo José Carlos Martins, 70 a 80% dos enfermeiros auferem uma remuneração líquida mensal entre 900 a 1000 euros, quer tenham um ou 30 anos de carreira.

“Isto é uma das razões que levou ao abandono de cerca de 2000 enfermeiros do SNS (Serviço Nacional de Saúde) no prazo de um ano”, entre março de 2014 e março de 2015, destacou.

O dirigente do SEP apontou ainda outros motivos para o descontentamento dos enfermeiros, entre os quais os 10 anos de congelamento das progressões, cortes em 50% das horas extraordinárias, trabalho nocturno e ao fim de semana e a “enorme exploração dos enfermeiros especialistas que tiram um curso de especialização (…) prestam mais e melhores cuidados, mas mantém o seu salário”.

A greve começa hoje na região de Lisboa e Vale do Tejo e vai estender-se na quarta-feira ao Alentejo e na quinta-feira ao Algarve, seguindo-se posteriormente mais paralisações na região norte e na região centro.

Todos os serviços hospitalares, incluindo blocos operatórios, consultas de enfermagem, consultas externas de hospitais e dos centros de saúde deverão ser afetados, exceto os internamentos, onde são garantidos os serviços mínimos indispensáveis.

Governo não apresentou contraproposta

O SEP esperava que a contraproposta de revisão salarial tivesse sido apresentada no dia 27 de julho na última reunião negocial com o governo, o que não se concretizou.

“Esperamos que, em setembro, as apresente tal como o ministério da saúde já o fez para outros setores “, apelou José Carlos Martins dizendo que os enfermeiros não aceitam esta “discriminação negativa” face a outros trabalhadores.

O protesto, que pode afetar consultas, tratamentos e outra atividade programada em hospitais e centros de saúde, foi marcado para demonstrar descontentamento pelo adiamento da revisão salarial dos enfermeiros, enquanto médicos e setores social e privado continuam a receber incentivos.

Nos três dias de greve – um em cada região – serão cumpridos serviços mínimos, como é habitual.

O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) marcou a greve na Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo, na região do Alentejo para quarta-feira e no Algarve para quinta-feira, contestando que o ministro da Saúde “retire” a estes profissionais “para custear Misericórdias, PPP’s [Parcerias Público-Privadas] e outros grupos profissionais”.

Nesse contexto, os enfermeiros questionam a tutela sobre se esta é a sua lógica de “equilíbrio orçamental”, já que é o argumento usado pelo ministério da Saúde como “justificação para protelar a revisão salarial dos enfermeiros”.

Para sustentar as suas acusações, o SEP recorda que recentemente o ministério anunciou mais 125 milhões para apenas oito Misericórdias do Norte, incentivos para fixação de médicos na “periferia”, bem como concursos de promoção na carreira médica.

O SEP sublinha ainda o facto de o Tribunal de Contas ter concluído que o funcionamento da PPP de Loures acarreta mais custos do que hospitais públicos idênticos e afirma estar “em curso, de forma clandestina, negociação para atribuir incentivos aos médicos nas USF modelo A e Unidades de Cuidados na Comunidade”.

Paralelamente a isto – salienta o sindicato - milhares de enfermeiros continuam com um salário abaixo do valor de referência, cerca de 12 mil especialistas não têm qualquer valor salarial que compense as qualificações e a competência diferenciada, e continuam em dívida milhares de horas a mais trabalhadas e incentivos aos enfermeiros que trabalham em USF modelo B.

Quanto a valores concretos, o SEP fala em perdas de cerca de 250 milhões de euros por congelamento das progressõQuanto a valores concretos, o SEP fala em perdas de cerca de 250 milhões de euros por congelamento das progressões e de 120 milhões de euros em resultado do corte em 50% das horas penosas.