No Hospital de São João, de acordo com o dirigente do STFPS Mário Sobrinho, a "adesão rondou os 75%", num impacto que foi "contornado pelo hospital com a mobilidade de alguns funcionários para outros serviços" e pelo facto de "haver gente a trabalhar sem contrato".

"Estão fechados os blocos de estomatologia, de oftalmologia, de otorrinolaringologia - aqui também não houve consultas - e ainda o bloco de neurocirurgia, enquanto o bloco de torácica encontra-se a 50%", afirmou à Lusa aquele responsável sindical.

"Vive-se uma situação estranha neste hospital que, há pouco tempo, meteu pessoal, mas porque ainda nem sequer têm contratos assinados são eles quem estão a assegurar os serviços, tanto nesse bloco como na urgência, garantindo os serviços mínimos, o que faz sentido em termos de cirurgia".

"No global, há consultas que também estão fechadas mas onde a mobilidade interna dos funcionários acaba por garantir que os serviços continuem a funcionar e, neste momento, ao nível dos internamentos, os serviços mínimos estão garantidos, o que também faz sentido porque os doentes não têm culpa", disse.

Para Mário Sobrinho, no global "a mobilização dos trabalhadores poderia e deveria ter sido maior dadas as reivindicações das 35 horas, descongelamento de carreiras e aumento de salários, mas também há que compreender que entraram muitas pessoas novas e há a situação dos precários".

Com os corredores das consultas externa do Hospital de São João a manter a azáfama diária foi entre a compreensão e o desconhecimento que decorreram as conversas com alguns dos utentes daquela unidade de saúde.

Clara Ferreira, de Gondomar, levou a filha a uma consulta de ortopedia infantil mesmo sabendo que havia greve: "Fui atendida, ainda que com meia hora de atraso, mas correu tudo bem", disse à Lusa.

Sobre o movimento no hospital, disse "haver menos gente nos corredores", concluindo que "talvez por saberem que iria haver greve", ao mesmo tempo que manifestou simpatia pelas reivindicações dos profissionais em greve.

"Qualquer ser humano tem direito aos seus direitos e, por vezes, tem que ser com greves que se fazem ouvir, embora nem sempre resultem", disse.

Rosa Maria deslocou-se por sua vez de Felgueiras ao Porto para fazer análises e, apesar de algum atraso, também foi atendida.

"Eles têm os seus direitos, mas quem vem de longe, deixa o seu trabalho, gasta do seu dinheiro, fica um pouco a pensar nisto", observou.

Sem saber que havia greve, Serafim Brilhante, proveniente da zona de Aveiro, apresentou-se esta manhã no hospital ignorando a marcação da greve "para fazer análises e ter uma consulta de oftalmologia". Ao princípio da manhã, quando falou à Lusa, a primeira das situações estava resolvida.

"Tenho a consulta marcada para as 12:30 e sempre fui avisado por carta quando houve adiamentos", informou o utente a quem também lhe pareceu "haver menos gente no hospital".

Convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS), a greve nacional de hoje na Função Pública foi anunciada no início de abril para reivindicar aumentos salariais, pagamento de horas extraordinárias e as 35 horas de trabalho semanais para todos os funcionários do Estado.

O regime das 35 horas foi reposto em julho de 2016, deixando de fora os funcionários com contrato individual de trabalho, sobretudo os que prestam serviço nos hospitais EPE.

A FNSTFPS, afeta à CGTP, é composta pelos sindicatos do norte, centro, sul, regiões autónomas e consulares, e representa 330 mil funcionários.

A última greve geral convocada pela FNSTFPS com vista à reposição das 35 horas semanais realizou-se em janeiro do ano passado, e teve, segundo a estrutura, uma adesão média entre 70% e 80%, incluindo os hospitais.