"Está bem estabelecida a relação entre a exposição continuada ao fumo do tabaco e Degenerescência Macular, Doença de Graves, Catarata, Glaucoma, Uveíte e Doenças da Superfície Ocular, levando à cegueira irreversível em muitos casos", explica Maria João Quadrado, presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia. "Evidências científicas demonstram um efeito dose-dependente do fumo do cigarro nas doenças oculares, isto é quanto maior a exposição, maior o risco de desenvolvimento e de progressão destas doenças".

De facto o tabaco acelera o processo de envelhecimento em todo o organismo, inclusive a nível ocular, uma vez que os químicos presentes no fumo aumentam os níveis de oxidantes e diminuem os níveis de antioxidantes. Assim, o fumo do tabaco pode aumentar para o dobro o risco de desenvolver catarata e degenerescência macular da idade, duas das principais causas de cegueira a nível mundial.

"A catarata resulta do processo normal de envelhecimento ocular. No entanto, os fumadores apresentam um risco muito maior de aparecimento da catarata, pela entrada de produtos tóxicos dentro do olho e pelo aumento da temperatura que o cigarro provoca. Quanto maior o número de cigarros que se fumou, maior o risco de apresentar catarata", refere Maria João Quadrado.

A presidente da SPO afirma também que "o tabaco duplica ou mesmo triplica o risco de desenvolver DMI (Degenerescência Macular da Idade). Esta doença afeta a retina, nomeadamente a macula que é a zona responsável pela visão de leitura, podendo levar à cegueira legal. Os fumadores desenvolvem em média esta doença dez anos mais cedo que os não fumadores e quanto maior o tempo e maior o número de cigarros a pessoa fumou durante a vida, maior o dano para a visão".

Há ainda outras patologias agravadas pelos hábitos tabágicos. Nos diabéticos, o tabaco apresenta um risco duas a três vezes superior de desenvolvimento de retinopatia diabética, e agravam a doença depois de esta surgir. O fumo do cigarro piora o Síndrome do Olho Seco com alterações da qualidade do filme lacrimal, diminuição da produção de lágrima e da sensibilidade da córnea e conjuntiva. Para além disso pode levar ao aparecimento de infiltrados e úlceras de córnea nos portadores de lentes de contato. É frequente o quadro de irritação, olhos vermelhos e lacrimejo associado à exposição do fumo do cigarro. O fumo do tabaco agrava também a Alergia Ocular, principalmente em crianças, tornando a doença crónica.

Está também demonstrada cientificamente a associação entre fumar e o desenvolvimento de Doença de Graves, neuropatia ótica isquémica e orbitopatia tiroideia, doenças graves que podem levar à perda súbita ou total de visão. Já quem fuma na gravidez aumenta o risco do bebé ter estrabismo, erros refrativos ou retinopatia.

No entanto, deixar de fumar pode parar ou mesmo reverter algumas lesões oftalmológicas causadas pelo fumo do tabaco, dependendo do tipo e gravidade da doença. "No caso da DMI, os fumadores têm aproximadamente o dobro do risco de desenvolver esta doença, mas o risco em ex-fumadores é apenas ligeiramente superior ao das pessoas não fumadoras. O risco de desenvolvimento de catarata também é inferior em ex-fumadores quando comparado com fumadores ativos. Parar de fumar é um dos fatores fundamentais no tratamento da orbitopatia tiroideia", frisa a especialista.