“É importante a pessoa perceber como a alimentação pode ter um alívio muito importante na dor”, adiantou Carla Santos, que falava à Lusa a propósito de um ‘workshop’ de alimentação para doentes com dor, promovido pela Associação para o Desenvolvimento da Terapia da Dor (Astor), que decorre na sexta-feira, na Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa.

A dietista do Hospital Garcia de Orta, em Almada, explicou que há alimentos que, além de minimizar a dor, ajudam a “aliviar a inflamação, drenar líquidos em excesso ou, em associação, ajudar a perder peso”.

Mas seja para a disfagia, que pode ser oncológica, mecânica ou neurológica, seja para a obesidade, “a alimentação tem de ser sempre apelativa para que seja procurada pelo utente”, sublinhou.

Com o ‘workshop’, a Astor pretende promover a partilha de conhecimentos, sabores e experiências que ajudam a melhorar a vida dos doentes com dor.

Beatriz Craveiro Lopes, da direção da Astor e diretora da Unidade de Dor do Hospital Garcia de Orta, acrescentou que estes alimentos “são uma arma terapêutica para ajudar os doentes”.

“O que se bebe e o que se come tem repercussões na saúde das pessoas”, podendo influenciar para melhor ou para pior o estado da sua doença, “porque há alimentos que podem interferir com a medicação”, disse à Lusa Beatriz Craveiro Lopes.

A especialista deu como exemplo o caso das pessoas que têm dificuldade em engolir, porque têm uma doença neuromuscular, um cancro do esófago, da laringe, ou problemas na região do pescoço e não podem comer qualquer alimento, sobretudo os sólidos.

Nestes casos é importante saber os alimentos que deve escolher e como os confecionar para ultrapassar essa dificuldade, explicou Beatriz Craveiro Lopes.

“O objetivo que temos é ensinar aos profissionais de saúde, mas sobretudo aos doentes e aos seus cuidadores, o que é mais indicado para o doente em determinadas situações”, sublinhou.

Apontou o caso de alguns tratamentos para doentes oncológicos em que não devem ser ingeridos alimentos ou bebidas frias ou geladas - mas como dar a volta a esta questão, quando o menos indicado é o que mais agrada e o que mais conforta os doentes, questionou a médica.

Beatriz Craveiro Lopes adiantou que são muitos problemas que surgem no dia-a-dia e aos quais é preciso dar resposta, sensibilizando a população para estes assuntos, explicando-lhes que, “com pequenas soluções, obtêm-se grandes resultados”.

A especialista adiantou que os profissionais de saúde e a população já “estão muitos atentos” à questão dos cuidados com a alimentação, mas, em relação à importância da alimentação no alívio da dor, ainda se está “muito longe do que é desejável”.

A dor oncológica pode afectar entre 60% a 80% dos doentes com cancro, nomeadamente na fase mais avançada da doença.