Bassia Hamech, de 76 anos, transporta nas mãos um prato de sopa quente. É aqui, num refeitório no leste de Londres, administrado por uma organização sem fins lucrativos chamada FoodCycle, que se tem alimentado nas últimas semanas. "Venho pela comida, mas também pela boa conversa", conta à agência de notícias France Presse.

Este local, em Hackney, no centro de Londres, serve almoços semanais vegetarianos para 50 pessoas, muitas delas com problemas de saúde ou em risco de isolamento social. Uma das voluntárias, a artista Anne Engel, diz que a comida que confeciona provém de doações. As mais generosas são as dos vendedores de frutas turcos, enquanto os grandes supermercados são para ela menos confiáveis. Às vezes, doam apenas um saco de pão.

"Aqui, oferecemos todo o tipo de comida fresca e maravilhosa", diz Anne Engel, que no processo de angariação de alimentos conseguiu mangas, hortelã e ovos. Se não fosse ela e a sua organização, todas aquelas frutas e verduras iriam parar ao lixo por serem esteticamente inadequadas.

Com os ingredientes recolhidos, foi montado um cardápio composto por sopa, tortilha italiana e salada de frutas. É preciso apenas alguma criatividade e um livro de receitas para poder aproveitar e tirar o máximo partido dos artigos doados.

O ano de 2016 foi uma referência para ativistas internacionais no que toca ao combate ao desperdício. Itália e França aprovaram leis para facilitar doações de estabelecimentos comerciais.

Em Portugal, a ReFood foi pioneira. A funcionar desde março de 2011, a associação Re-Food 4 Good, fundada pelo consultor norte-americano Hunter Halder, com a ajuda do filho Christopher Halder, tem como missão recolher as sobras de cafés e restaurantes e distribuir por quem não tem comida para pôr na mesa, ajudando a colmatar a subnutrição de muitas famílias de Lisboa que, sem este projeto, não comeriam tantas refeições completas.

I Reino Unido ainda está  atrasado em relação a alguns pares europeus por não ter legislação sobre o tema, deixando grupos comunitários e alguns negócios preencherem o vazio legal. Estima-se que este país descarte 10 milhões de toneladas de alimentos ao ano, segundo números da organização Waste and Resources Action Program (WRAP).