O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) anunciou esta quinta-feira que vai manter a greve nacional, marcada para sexta-feira e dia 21, respondendo negativamente ao apelo do governo para reconsiderar as datas do protesto, tendo em conta o "cenário extraordinário" do surto de ‘legionella’.

Ainda antes de se conhecer a decisão do Sindicato, Francisco George disse aos jornalistas que fazer uma greve no contexto de “uma epidemia não iria dignificar os processos reivindicativos dos enfermeiros”.

Para George, os enfermeiros teriam ficado numa posição cimeira de negociação se tivessem desconvocado a greve nacional marcada para sexta-feira, como pediu o governo.

“Estou convencido que se os enfermeiros adiarem estes movimentos reivindicativos ficam numa posição cimeira de negociação, com mais força”, declarou o diretor geral da Saúde aos jornalistas, à margem da apresentação do relatório do Programa Nacional para as Doenças Cérebro Cardiovasculares 2014.

“De manhã cedo falei com [a dirigente sindical] Guadalupe Simões e expliquei que não era oportuno, em termos de riscos que isso representa para os doentes”, acrescentou.

O diretor-geral da Saúde está convicto de que a greve pode ter implicações nos cuidados de saúde: “Em função da greve, ou não, teremos seguramente uma tradução nos cuidados aos doentes. Estamos a falar de 300 pneumonias em tratamento, cada uma delas com terapêutica endovenosa de 12 dias de duração, de quase 50 doentes em regime de cuidados intensivos e intermédios, alguns deles em ventilação. Chamei a atenção à senhora enfermeira, citei a minha experiência de médico, em cargos públicos, pai de uma enfermeira, expliquei que não era oportuno”.

No final de uma reunião dos dirigentes do SEP para avaliar o apelo do Ministério da Saúde tendo em conta o "cenário extraordinário" do surto de ‘legionella’, o dirigente sindical José Carlos Martins disse que esta não é uma questão suficiente para desconvocar o protesto.

“Um surto de `legionella´ não justifica a desconvocação da greve nacional”, disse José Carlos Martins aos jornalistas.

José Carlos Martins assegurou que, havendo necessidade, designadamente ao nível de Lisboa, poderão existir alguns ajustes.

Segundo José Carlos Martins, “a Direção-Geral da Saúde e o Ministério da Saúde sabem que, mesmo em greve, os enfermeiros prestarão os cuidados necessários”.

O Ministério da Saúde pediu ao SEP para reconsiderar as datas da greve nacional, tendo em conta o "cenário extraordinário" do surto de ‘legionella’.

Numa carta, com data de quarta-feira e a que a Lusa teve acesso, o Ministério afirma recear que a greve, a acontecer nos dias anunciados, "possa comprometer a prestação de cuidados de saúde", considerando que estão em causa "necessidades em saúde indispensáveis e inadiáveis".

"Sem questionar o direito constitucional à greve, solicita-se que, tendo em conta o interesse público e o cenário epidemiológico extraordinário atual, se dignem avaliar a oportunidade da paragem laboral já decretada, as consequências nos cuidados prestados às pessoas e a perceção social sobre a greve e os seus riscos", refere a carta, assinada pelo secretário de Estado da Saúde, Manuel Teixeira.

O Ministério argumenta que o surto de ‘legionella’ "ainda não se encontra debelado, podendo ainda aumentar o número de doentes com necessidade de cuidados de saúde" bem como a necessidade de recursos humanos, nomeadamente enfermeiros.

O surto de ‘legionella’ infetou 302 pessoas e provocou pelo menos cinco mortos, estando mais quatro ainda em investigação.

A ‘legionella’, que provoca pneumonias graves e pode ser mortal, foi detetada na sexta-feira, no concelho de Vila Franca de Xira.

A doença do legionário, provocada pela bactéria ‘Legionella pneumophila’, contrai-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminada (aerossóis) de dimensões tão pequenas que transportam a bactéria para os pulmões, depositando-a nos alvéolos pulmonares.