21 de janeiro de 2013 - 12h35
A família de uma mulher que morreu depois de uma operação à tiróide, em Mirandela, há seis anos, reclama uma indemnização de 200 mil euros ao hospital e ao médico, que começou hoje a ser julgado no tribunal local.
A doente, de 40 anos, morreu durante o recobro, a 7 de dezembro de 2006, no hospital de Mirandela, com complicações pós operatórias, que se desenvolveram enquanto o médico anestesista, responsável peça vigilância, se ausentou para ir almoçar.
O profissional, José Alberto de Carvalho, alegou hoje em tribunal que “a doente estava bem” quando a deixou e afirmou que “atuação do colega foi errada”, referindo-se ao médico de clínica geral que tentou socorrer a doente quando entrou em paragem cardiorrespiratória devido à acumulação de sangre na ferida da operação.
O médico arguido admitiu que “poderá ter havido agravamento do estado clínico” da doente, nos 40 minutos em que esteve ausente do hospital para ir almoçar a casa, e que foi contactado telefonicamente “duas vezes” pela enfermeira de serviço, que lhe transmitiu, na segunda chamada, o agravamento da situação clínica da mulher.
Quando regressou ao hospital, alegou que o colega de clínica geral, que também estava de serviço, já tinha aberto o buraco na traqueia (traqueostomia) e que considerou que essa a atuação foi “errada”.
O médico afirmou que “nunca faria” esse procedimento.
“Era de ventilar de imediato a doente”, considerou.
A equipa já não conseguiu reanimar a doente que acabou por morrer.
O anestesista explicou ainda ao tribunal que a operação em causa não tinha sido da sua responsabilidade e que assumiu o recobro por ser o responsável na escala do serviço de urgência.
O advogado de defesa da família da doente, Victor Novais, afirmou à Lusa que, “perante o despacho de acusação”, a ilação que extrai “é que houve um comportamento impróprio [do médico] e que, por via disso, a família pede uma indemnização para ressarcimento dos danos e da angústia que viveu e tem sofrido, no sentido de serem devidamente reparados”.
O valor é de 200 mil euros, sendo reclamado ao arguido e solidariamente ao hospital, através da Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste, a responsável pelas unidades de saúde do Nordeste Transmontano.
A mulher tinha 40 anos, era casada, e mãe de dois filhos menores, na altura dos factos.
A intervenção cirúrgica a que foi submetida para remoção da tiroide, “era uma situação que não se revestia de cuidado, não era de maneira nenhuma expectável que viesse a acontecer (a morte)”, segundo o advogado.
A defesa do arguido não quis prestar declarações aos jornalistas, remetendo explicações para depois do julgamento.
Lembrou apenas que a Inspeção Geral das Atividades da Saúde (IGAS) arquivou o processo que abriu ao caso, por não ter encontrado nexo de causalidade.
O médico anestesista, com 78 anos, já não presta serviço na região transmontana.
O profissional responde pelo crime de recusa de médico punido com uma pena até cinco anos de prisão, agravada em um terço se resultar a morte ou ofensa à integridade física.
O julgamento tem nova data marcada para 11 de fevereiro.
Lusa