18 de março de 2014 - 08h52
O presidente da Sociedade Portuguesa de Alcoologia mostra-se preocupado com a resposta dada aos doentes alcoólicos, alertando que falta intervir na área da prevenção e na preparação de técnicos para trabalhar nesta área.
“As nossas preocupações em termos de Sociedade Portuguesa de Alcoologia, para além do aspeto do tratamento e do reconhecimento do doente, que para nós é fundamental, é a expetativa de que aumente a resposta a estes doentes, estamos preocupados com isso”, disse em declarações à Lusa, Augusto Pinto, presidente da SPA.
Na véspera do Dia Nacional dos Alcoólicos Anónimos, Augusto Pinto explicou que inicialmente os doentes alcoólicos eram tratados em centros regionais de alcoologia, locais onde também eram formados técnicos de saúde e educação, “com um papel importante não só no diagnóstico cada vez mais precoce, mas também no apoio e suporte destes doentes ao longo da vida, já que se trata de uma doença crónica”.
No entanto, segundo Augusto Pinto, quando estes centros passaram a integrar o Instituto da Droga, os serviços passaram a ser “basicamente tratamentos de recuperação, perdendo-se a capacidade de intervenção fora dos serviços”. “Neste momento há a perspetiva, muito recente, de os serviços de internamento integrarem os hospitais e os serviços de ambulatório continuarem dentro das administrações regionais de saúde (ARS). Tudo depende de como as coisas vão ser feitas”, explicou.
Augusto Pinto alerta porém que as mudanças nos últimos anos levaram a que não estejam a ser preparados técnicos, médicos, enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos vocacionados nesta área “muito específica”.
“É necessário uma tomada de consciência da situação da doença. É difícil no nosso país, onde a acessibilidade [ao álcool] e a permissividade para o consumo é muito grande. Onde toda a população considera normal o consumo de bebidas alcoólicas e, até mesmo o consumo excessivo”, alerta.
Para o presidente da SPA é difícil perceber que uma pessoa está a sofrer por causa de uma substancia que é utilizada no dia-a-dia e que é usada de “forma genérica em qualquer atividade social”.
Segundo Augusto Pinto, é necessário igualmente “capacidade de intervenção na área preventiva” para que possa haver redução do consumo de álcool no país, admitindo que é difícil combater a indústria produtora de bebidas alcoólicas, não só portuguesa como a europeia, além de outras instituições e empresas, “que têm muito poder e dificultam algumas atividades importantes na área da prevenção”.
“Somos um país com uma grande acessibilidade ao álcool, dependemos muito também de algumas estruturas económicas, da produção, comercialização e distribuição de bebidas alcoólicas que têm um peso muito importante na sociedade”, frisou. “Associamos o álcool a todas as coisas positivas, mas a verdade é que este traz imensas coisas negativas”, alertou.
Lusa