"As crises são momentos que se devem aproveitar para fazer as mudanças e as reformas que devem ser feitas. No princípio da crise, tinha-se começado a implementar um plano de reforma da saúde mental, aprovado em 2008. O que aconteceu é que, em 2011, o plano foi suspenso", afirmou à Lusa o professor universitário José Caldas de Almeida, presidente do Lisbon Institute of Global Mental Health, instituição que realizou o estudo.

A investigação, feita com base num inquérito a uma amostra da população portuguesa - 911 pessoas - e no seguimento de um trabalho anterior, com entrevistas a 2.060 pessoas, concluiu, segundo dados preliminares, que os problemas de saúde mental, sobretudo os mais graves, aumentaram em Portugal com a crise económica, entre 2008 e 2015.

José Caldas de Almeida foi coordenador nacional para a Saúde Mental, tendo sido responsável pela aplicação do Plano Nacional de Saúde Mental, entre 2008 e 2011.

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Para o docente da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, "a saúde mental deixou de ser uma prioridade dos governos", quer dos anteriores de direita, quer do atual de esquerda, atendendo a que "todo o esforço de reforma, de restrutura dos serviços foi suspenso".

Programas interrompidos

Segundo o psiquiatra, medidas que constavam no Plano Nacional de Saúde Mental, como o desenvolvimento de serviços de comunidade, para acompanhamento de doentes, com equipas multidisciplinares, "foram interrompidas". José Caldas de Almeida enalteceu, no entanto, "o profissionalismo muito grande, a dedicação" de médicos e enfermeiros, que evitou "o colapso" do sistema de saúde na resposta ao aumento das perturbações mentais.

"O sistema aguentou-se, não deu de si, não houve nenhuma situação dramática", advogou, salientando o "aumento significativo" do número de consultas, muito embora, apontou, a redução do orçamento para a saúde mental e a diminuição de médicos e enfermeiros nos serviços públicos, a "paragem de novas contratações".

O coordenador do estudo sublinhou que, apesar da capacidade de resposta do sistema de saúde, as dificuldades no acesso a consultas e a tratamentos adequados aumentaram entre 2008 e 2015.

O Lisbon Institute of Global Mental Health é uma associação privada sem fins lucrativos, que conta com a participação da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, que acolhe o instituto, da Fundação Calouste Gulbenkian e da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa.

A instituição propõe-se contribuir "para o desenvolvimento de políticas e serviços de saúde mental a nível global, com especial ênfase nos países de baixo e médio rendimento, através de atividades e prestação de serviços".