Está na altura de desmistificar as ideias sobre exercício físico e obesidade, pois não é possível correr o suficiente para combater uma má alimentação, escrevem três especialistas no editorial do "British Journal of Sports Medicine".

O artigo refere um estudo recente que aponta 30 minutos de exercício moderado cinco vezes por semana como a "cura milagrosa" para a obesidade.

De acordo com o texto, citado pela BBC Online, essa estratégia faz lembrar a da indústria do tabaco, que associou a ideia de sofisticação ao hábito de fumar. Tal como as tabaqueiras, as suas congéneres no ramo alimentar tentam passar a ideia de que qualquer um pode consumir o açúcar que quiser, se resolver esses excessos num ginásio.

Apesar de a atividade física reduzir o risco de problemas coronários, diabetes tipo 2, demência e alguns tipos de cancro, o seu impacto na obesidade é mínimo, sublinham os autores do editorial. A "chave" para combater o excesso de peso está na quantidade de açúcar e hidratos de carbono ingeridos.

Os investigadores defendem que este deve ser o foco das políticas públicas contra a obesidade.

Os três especialistas médicos - Aseem Malhotra, do Reino Unido, Stephen D Phinney, dos  Estados Unidos, e Timothy Noakes, da África do Sul - responsabilizam a indústria alimentar pela promoção da ideia de que o exercício pode reduzir o impacto da má alimentação.

"Uma pessoa obesa não precisa de fazer exercício para perder peso, só precisa de comer menos quantidade. A minha maior preocupação é que a mensagem que chega ao público sugere que se pode comer o que se quiser desde que se faça exercício", explica um dos autores, o cardiologista Aseem Malhotra.

"Isto não tem base científica. Não se pode correr contra uma má dieta", acrescenta, citado pela BBC.

Uma dieta pouco saudável está mais associada a problemas de saúde do que o sedentarismo, álcool e tabaco juntos, sublinham.

Segundo o editorial, mais de 40% daqueles que atualmente têm um peso considerado saudável, mas seguem uma alimentação incorreta, sofrerão no futuro danos metabólicos associados à obesidade.