5 de dezembro de 2013 - 15h26
A queda acentuada do número de transplantes em Portugal e a procura de soluções para inverter esta tendência vão estar no centro de um simpósio que vai reunir vários profissionais da área, entre sexta-feira e sábado.
Os últimos números oficiais sobre a transplantação de órgãos são de 2012 e são “francamente dececionantes”, disse à Lusa Fernando Macário, presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação (SPT), acrescentando que se acentuou a tendência de queda que se vinha verificando desde 2010.
O responsável sublinhou que estes números estão muito abaixo dos de 2009, ano em que, na Europa, Portugal se situava em segundo lugar relativamente à colheita de órgãos e em primeiro na transplantação de rim e fígado.
“Desde então fomos descendo. Ainda somos dos que estão acima da média europeia, mas descemos muito, comparando com espanhóis, por exemplo”, afirmou.

Menos 157 transplantes em 2012
No ano passado, realizaram-se 681 transplantes em Portugal, menos 157 do que no ano anterior, o que representa uma queda de 19%.
Em quatro anos, de 2009 até 2012, a redução do número de transplantes foi de aproximadamente 27%, com menos 247 transplantes realizado.
Quanto a 2013, embora os dados sejam ainda provisórios, Fernando Macário assinalou uma melhoria em relação ao ano anterior na zona Centro, em Coimbra.
No entanto, globalmente o cenário não é animador, uma vez que entre janeiro e maio deste ano houve 271 transplantes, menos 23 do que no mesmo período de 2012 e o valor mais baixo desde 2009.
Verificou-se, contudo, uma particularidade: o número de dadores em morte cerebral foi exatamente o mesmo nos cinco primeiros meses de 2012 e 2013, mas o número de órgãos com qualidade para transplantação diminuiu 6% este ano, o que baixou o número de transplantes.
Esta falta de qualidade dos órgãos tem que ver com o aumento médio de idades dos dadores, que em 2012 era de 51,2 anos e em 2013 passou para 55,2 anos.
“Um dos objetivos do simpósio é debater estes problemas relacionados com a doação e colheita de órgãos, tentamos juntar pessoas da transplantação com as que estão ligadas a deteção dos dadores, à coordenação de transplantes e à colheita de órgãos. Vamos pôr as pessoas a discutir estes problemas, desde abordagem ética e legislativa, até ao diagnóstico de morte circulatória e cerebral”, explicou Fernando Macário.
O presidente da SPT sublinhou que até há meses só se podia fazer transplante em morte cerebral, agora já é possível em coração parado, o que abre novas perspetivas de se aumentar o número de transplantes no país.
“Em Espanha, os transplantes de dadores com coração parado correspondem a 10% do total de dadores”, disse, acrescentando que “outro aspeto que não é discutido diretamente é a colheita em dadores vivos, em que estamos abaixo dos números europeus”.
Questionado sobre a explicação para estas quebras, Fernadno Macário não tem dúvida quanto ao facto de haver menos acidentes de viação, o que há uns anos atrás era a principal fonte de dadores.
Hoje, a principal fonte são os mortos por causas médicas, como o Acidente Vascular Cerebral (AVC), o que também tem vindo a baixar.
“Tal como a população está a envelhecer, também a idade média do dador tem subido muito nos últimos anos: há potencial dador, mas há problemas de falta de saúde, como diabetes, e os órgãos não estão em condições de serem utilizados”, acrescentou.
No entanto, o responsável salienta que não há uma causa única para esta quebra. As razões são várias e vão desde problemas de organização de cuidados intensivos, à falta de coordenação em algumas áreas, ou [o facto de] hospitais não estarem constituídos ainda como hospitais de transplantação.

Lusa